domingo, 9 de junho de 2013

Omar teve a vida devassada


Tudo o que ele sempre quis foi ser forte. Para isso correu, se exercitou, ficando com um corpo “sarado”. Mas um dia decidiu se auto fotografar despido. Queria ver como ficava. Mas as fotos foram roubadas. Hoje, Omar paga o preço do preconceito e da difamação.

Dilmércio Daleffe




Omar Cardoso da Silva é um cara normal. Ganha a vida como cabeleireiro há 14 anos em um pequeno salão na área central de Campo Mourão. Assim como todo cidadão, paga suas contas e trabalha para receber seu dinheiro. Casado, tem uma rotina comum como qualquer outro marido. Mas, desde o final do último ano, algo fugiu do controle. Atleta e dono de uma vaidade descomunal, Omar decidiu se auto fotografar. E nu. Seu erro foi ter colocado as fotos em uma área restrita do Facebook, onde apenas ele e outros poucos “amigos” tinham acesso. Mesmo tratando-se de retratos artísticos, suas fotografias foram, segundo ele, “roubadas” e disseminadas a milhares de pessoas. A partir daí uma avalanche caiu sobre sua cabeça. “Já fui chamado de pederasta, homossexual além de vários outros nomes que prefiro nem dizer”, disse. Omar está sendo vítima de preconceito e discriminação.

Aos 35 anos de idade e, atleta disciplinado, Omar decidiu iniciar uma maratona contra ele mesmo. Há vários anos começou a correr pelas ruas da cidade. Hoje, percorre quase 40 quilômetros por dia. Vendo seu corpo transformar-se, gostou, e quis mais, passando a exercitar-se como um verdadeiro narcisista. Com os músculos definidos, aprendeu a valorizar o físico. A cultuação foi tão grande que quis ver a si próprio através das lentes. Então improvisou uma máquina dentro do salão, fechou as cortinas e despiu-se. “Fiz fotos artísticas de mim mesmo. As fotos eram para mim. As coloquei num arquivo meu, mas as pegaram sem meu consentimento. Jamais as mandei para alguém. Mas houve uma trairagem”, relatou.

No entanto, para espanto e surpresa, viu que seu nu artístico explodiu na cidade. Há alguns meses não se falava de outra coisa. Omar, embora contrariado, começava a ser punido mesmo sem ser ouvido. “A sociedade me julgou e me condenou sem eu poder ter explicado o que aconteceu”, disse. Hoje, segundo ele, até crianças passam em frente ao salão e o xingam. Alguns atiram objetos na calçada. “Notei que pessoas viraram a cara e que o preconceito na cidade é muito grande”, disse. De acordo com Omar, apesar de ter amigos gays, ele não é um deles. “Tenho amigos homossexuais e não tenho nada contra isso. Mas gostaria de dizer que sou casado e adoro minha mulher. Sou hétero”, afirma.

Omar esclarece que pratica ginástica de calistenia, ou seja, buscar pela exercitação a harmonia do corpo. Desta maneira faz apologia de exercícios na cidade, tanto é que ficou conhecido como “Night Runner” – o corredor da noite. “Busco estimular a população a correr, fazer ginástica. Jamais bebi ou usei drogas. Nunca cometi infrações na minha vida. O que não quero é ser comparado com um criminoso”, disse. Hoje, define as fotos tiradas como uma avaliação laboratorial, fruto de um atleta narcisista. Ele lembra que em tempos antigos, romanos e gregos esculpiam estátuas de homens nus, simplesmente, para valorizarem a forma máscula de seus guerreiros. “Não me arrependo do que fiz. Amo esta cidade e a sua cultura. Só não quero ser julgado por algo que não sou”, finalizou. Antes de terminar a entrevista, Omar se deixou ser fotografado. Mas desta vez, vestido.  

Um comentário:

  1. Que absurdo, Dilmércio. Pobre rapaz, não faz mal a ninguém e, ainda assim, vítima da ignorância...

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