Sem banheiros públicos na área central da cidade, a
população vem sendo obrigada a virar-se como pode. Neste cenário, sobraram até
para as portas e paredes da Catedral, as quais vem servindo como alvo aos
desesperados.
Dilmércio Daleffe
Campo Mourão é um município do estado do Paraná localizado a
24º’02'38' de latitude sul e 52º22'40'' de longitude oeste do Meridiano de
Greenwich, com altitude média de 630 metros acima do nível do mar. De acordo com o IBGE, a
população é de pouco mais de 86 mil pessoas. O planejamento inicial da cidade
foi traçado e estruturado a partir de um formato geométrico lembrando um
tabuleiro de xadrez. São três praças centrais, construídas para o bem estar da
população. Ou seja, uma cidade e suas praças voltadas às pessoas. Mas nem tudo
vem funcionando conforme o desejo popular.
A maior parte das pessoas que freqüenta o centro de Campo
Mourão já sai de casa preparada para não ir ao banheiro. A razão é muito
simples. Lá, com raras exceções, não existem banheiros públicos. Nas praças do
fórum, São José e Getúlio Vargas, tamanha é a ausência de sanitários, que não é
raro identificar pessoas “desaguando” em obeliscos, árvores e até nas portas da
Catedral. Com o problema, a educação perde-se no caminho, enquanto o cheiro da
urina permanece intacto em cantos escondidos do passeio público.
Taxista há dez anos, Ervino Dalazen, diz que o problema é
muito sério. Com o carro parado em frente à praça Getúlio Vargas, presencia
diariamente o desespero de pessoas idosas. “Os velhinhos nos perguntam onde
podem fazer o xixi. Recomendamos o banheiro da biblioteca. Mas muitos deles não
conseguem caminhar até lá. Um banheiro no local faz muita falta”, afirma.
Ervino, inclusive, conviveu com um companheiro de trabalho que se via obrigado
a fazer o santo xixi atrás de um obelisco da praça. Quando não o fazia, tinha o
constrangimento em urinar dentro de uma garrafa pet, no próprio carro. “Ele não
era relaxado. Apenas não tinha outra saída”, lembra.
Pioneira de Campo Mourão, Maria Correia do Prado, de 73
anos, brinca com a situação. Segundo ela, só rezando mesmo pra não urinar nas
calças. Bastante católica, ela visita a Catedral regularmente e diz que, quando
a vontade aparece, usa o banheiro do terminal. “Eu utilizo aquele banheiro
porque não pago para entrar. Mas as outras pessoas não sei como fazem”, disse. Ela
também argumenta que a presença de um sanitário na praça é fundamental à
população. “Não sei porque destruíram os antigos banheiros desta praça.
Eles
fizeram um projeto bonito, mas que não é bom”, garantiu.
Antes da revitalização da praça Getúlio Vargas, no ano de
2004, existiam dois banheiros no local, um aos homens e outro às mulheres.
Mesmo assim, as condições eram tão precárias que antes mesmo de serem
destruídos, já não funcionavam mais. Lá faltava de tudo, desde higiene a papel.
Já na praça do fórum jamais existiram banheiros públicos. O que existe são apenas
sanitários de uma lanchonete que abre somente à noite. Mesmo assim, quando há
eventos no local, o proprietário cede os banheiros. Apenas como comparação, o
município de Peabiru mantém na praça central banheiros higienizados
diariamente. Além disso, um dos sanitários está adequado a portadores de
deficiência física.
Aos 49 anos de idade, o aposentado Miguel Souza foi flagrado
descansando num dos bancos da praça Getúlio Vargas. Se estivesse “apertado” em
busca de um banheiro, teria que recorrer a uma lanchonete ou até uma empresa
próxima. “É um problema sério a ser resolvido. Tem que haver sim um banheiro”,
disse. A mesmo opinião possui o estudante Iuri Afonso, de 22 anos. Para ele, se
der vontade de fazer xixi, será obrigado a agüentar ou, senão, adentrar em
alguma loja e pedir o sanitário, na cara de pau. Um trabalhador local, que
preferiu não ter o nome revelado, disse que é comum ver a cena de pessoas
urinando ao redor da Catedral. Segundo ele, fazem xixi nas paredes e até nas
portas da igreja. De qualquer forma, enquanto nada se faz, o jeito é vir ao
centro da cidade com os “tanques” vazios.
Município diz que banheiros serão construídos
Para o vice-prefeito de Campo Mourão, Rodrigo Salvadori, a
presença de banheiros nas praças Getúlio Vargas e São José é muito importante à
população. Segundo ele, já existem estudos sobre a construção dos sanitários.
“O problema ali será a tubulação e readequação do local. Mas em breve
construiremos o espaço”, disse. Ele também descreveu como um erro a
revitalização das praças, em 2004, sem os banheiros.