domingo, 2 de julho de 2017

Um homem. Um secretário. Um servidor. Um Super Homem

Um homem. Um secretário.
Um servidor. Um Super Homem


Dilmércio Daleffe



Ele acorda por volta das cinco da manhã. Antes de sair veste uma camiseta azul do Super Homem. No trabalho, mesmo sendo Secretário de Obras, une-se a equipe sem mostrar-se superior.  Bate o cartão como todos e, numa intensa jornada diária, deixa o ar condicionado da prefeitura para arregaçar as mangas e fazer o que tem que ser feito, agora na rua. Márcio Ferreira é servidor municipal de Ponta Grossa. Desde o início do ano vem chamando a atenção pelos vídeos postados no FaceBook. Lá, revela toda sua revolta pela falta de educação frente ao lixo depositado em rios e cidade a fora. Com chutes e murros em entulhos, passou a ganhar força no apelo à conscientização da população.

Formado em jornalismo, Ferreira é casado, possui uma filha e é crente em Deus. Ponta Grossense convicto, agora como Secretário Municipal, vem contribuindo à melhoria da vida de sua população. E isso é facilmente evidenciado nas redes sociais. Não há um só dia em que ele não seja desafiado por alguém. Ao lado de sua equipe, vai atrás dos problemas apontados pela comunidade. Uma vez no trabalho, mata a cobra e ainda mostra o pau. E é com esse “jeitão” inovador que vem fazendo dele um cara diferenciado.



Há alguns dias, revoltado com entulhos jogados próximos a um arroio, Ferreira partiu uma folha de Eternit ao meio com um murro. Logo em seguida deu um chute numa lata de tinta, arremessando-a metros de distância. “Isso é uma vergonha. Não pode acontecer pessoal”, dizia furioso no vídeo. Ferreira não é político. Ele é apenas um homem. Um homem honesto. Como servidor público, vem descobrindo o verdadeiro sentido de fazer política. Ou seja, sua missão é acima de tudo transformar o dinheiro dos impostos em melhorias a sua gente. Afinal, ser político é servir.

“Assim como em todo o Brasil, aqui também temos falta de recursos. Mas nosso prefeito - Marcelo Rangel (PPS) - tem conseguido honrar os compromissos trabalhando muito. Nós vamos para a guerra com o que temos, mas também com muita atitude e dedicação, só assim poderemos vencer os desafios”, disse. Segundo ele, os servidores recebem em dia, sem atrasos. Até o 13º salário foi pago adiantado. Para ele, não existe outra saída que não seja o trabalho. “Há 20 anos a secretaria de obras tinha 1080 funcionários. Hoje são apenas 370”, lembrou.

Ferreira acorda todos os dias as 5h25. Ao chegar à prefeitura toma café com a equipe e, a partir das 6h30, inicia as reuniões. Cada um dos servidores sabe o que fazer, disse. Então, divide as turmas e vão as ruas. “O principal é a dedicação e as atitudes, sempre em prol da cidade, sem egos ou interesses pessoais”, revela.  E o trabalho não pode parar. Isso porque, segundo ele, Ponta Grossa tem uma área do tamanho de Londrina e Maringá juntas. São mais de 1,7 mil quilômetros de estradas rurais, 20 bairros e mais de 120 vilas. Atualmente, 40% das ruas da cidade são de terra, com uma topografia muito inclinada e difícil de trabalhar. “Muitas vias estão sem galerias, próximas de arroios, que geralmente inundam os bairros em épocas de chuvas”, ressalta.  Ponta Grossa tem quase 200 anos e não foi planejada como Maringá ou Londrina. “Tudo é muito mais difícil aqui”, disse.
Frente à força de vontade na secretaria, Ferreira inovou mais uma vez. Quase sempre veste uma camiseta do Super Homem. Trata-se de uma brincadeira, mas com cunho verdadeiro. Ele homenageia os próprios membros da equipe. “Uso em homenagem aos funcionários da Secretaria de Obras. Homens simples, que trabalham na chuva, no frio, no vento e no relento e nunca desanimam. São extremamente trabalhadores e eu sempre os chamo de super homens”, disse. Vez em quando, Ferreira até coloca uma capa vermelha, para incrementar ainda mais a  homenagem.

Defensor da natureza, o secretário não aceita ver tanta poluição. “Temos 150 arroios e 155 quilômetros de arroios poluídos. Nunca tivemos políticas públicas nesse sentido. Uma grande vergonha”, afirma. Segundo ele, quando um rio morre, morrem todos que vivem dentro dele, e também os que vivem em torno dele. “A água é o bem mais precioso do planeta. É inadmissível e inaceitável nossos arroios estarem em condições tão deploráveis”, disse. “Estamos realizando a limpeza constante em 20 arroios, mas isso é menos de 20% de todos eles. É um trabalho que tem que ser feito pelos próximos governos. A população tem que ajudar, por isso tento chamar a atenção de todos para o problema, demonstrando minha indignação com chutes e pontapés no lixo”.


Ferreira disse que se fizesse um vídeo normal, apenas mostrando o problema ninguém daria bola. Mas hoje, as pessoas já o conhecem pelos murros e chutes que desfere no lixo. “Já tem pessoas fazendo vídeos nos bairros socando televisores, e pneus também. Virou uma febre, mas para o lado bom, da defesa da natureza”, disse. De acordo com ele, as pessoas começaram a recolher lixo da rua, minimizando parte dos problemas. E desta forma, Ferreira começa a colher frutos de seu próprio exemplo.  Tomara que seus passos comecem ser seguidos também por secretários de outras cidades. Afinal, bons exemplos não podem parar. 



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