quinta-feira, 7 de setembro de 2017

LAGRIMAS DE UM 7 DE SETEMBRO

Existem razões para que o brasileiro comemore o 7 de Setembro? Não fosse o dia de feriado, certamente elas não existiriam. Um dia tão especial acabou sendo massacrado pelas ações ilícitas da classe política. Não temos mais orgulho. Malas de dinheiro, conversas inescrupulosas gravadas, quadrilhas, corrupção. Enquanto isso, nós, o povão, pagando mais impostos, e amargurando o troféu de bobo da corte. Indiscutivelmente somos um povo covarde. A situação já estaria resolvida em outros países. Não há paz sem guerra. Não há orgulho sem sangue. Não há justiça sem cadeia. Diante de todo o quadro negativo, os mourãoenses ainda foram a avenida assistir o desfile. Mas nada demais. Foram para se divertirem, sair de casa, passear com os filhos. Apenas isso.

  



























domingo, 2 de julho de 2017

O Fusca e o legado de Milton Luiz Pereira


O Fusca e o legado de Milton Luiz Pereira

Dilmércio Daleffe



Aparentemente um Fusca comum a tantos outros em Curitiba. Talvez a conservação da pintura, dos seus bancos claros, faróis e acessórios seja a diferença. Ou ainda, a placa preta demonstrando a sua quase inteira originalidade. Bom, para a população da capital o “fuca” passa despercebido. Mas aos mourãoenses, não. O Volkswagem ano 67 tem tudo a ver com Campo Mourão. Ele representa a passagem do advogado, juiz e ministro Milton Luiz Pereira à prefeitura da cidade. Pelos bons serviços prestados ao município, o ex-prefeito foi presenteado com o veículo pela própria população. Isso aconteceu em 29 de abril de 1967. Restando poucos dias para o fato completar 50 anos, o “fucão” voltará nos próximos dias à cidade. A ideia surgiu numa conversa entre o historiador Jair Elias e o filho de Milton Luiz Pereira, Marcus Vinícius Tadeu Pereira, agora responsável pelo carro.

Na época, Milton, já advogado, deixou a profissão de lado para tornar-se prefeito de Campo Mourão entre os anos 64 e 67. Na época, o salário do chefe do executivo era apenas dois salários mínimos. Então, para não passar sufoco financeiro, Milton vendeu um Ford que havia comprado. O dinheiro lhe daria um suporte, pelo menos no início do mandato. A pé, o prefeito foi reflexo da honestidade e transparência de uma época. Na década de 60, ele fez asfalto no centro, construiu o terminal rodoviário e a biblioteca municipal. Como muito fez, a população decidiu retribuir. Mesmo não aceitando presentes de ninguém, Milton foi pressionado a receber o Fusca. Coordenado por Munir Karan, um livro ouro percorreu a cidade arrecadando contribuições. “Eles davam de tudo. Tinha dinheiro, jóias, relógios e até uma galinha viva”, diz Marcus.

Então, em abril de 67 reuniu-se toda a doação e comprou-se o famoso Fusca azul. No dia 29 daquele mês, uma multidão levou o carro até a frente da prefeitura, quando Milton teve que aceitar o presente. “Ele não aceitava nada. Ele era turrão nesse ponto. Mas do jeito que foi aquilo ele não teve saída”, disse o filho. No dia da entrega o carro teve que ser empurrado até a casa do prefeito. Pensou-se que faltava gasolina, mas na verdade faltava uma peça do motor.

Marcus explica que desde a chegada do fusca, o pai jamais comprou outro carro. Certa vez, em 1999, Milton foi convidado para palestrar no fórum de Curitiba. Milton então foi com o “fuca”. Ao chegar no estacionamento do fórum, o segurança implicou. Disse que ali só ficavam carros oficiais e que aquele Fusca não poderia ali permanecer. Milton então desceu e explicou que iria palestrar. Não adiantou. Então desceram do prédio as ordens de que aquele “fuca” deveria ficar ali sim. Pois era nada mais que o principal homem da noite. Hoje, o veículo está com aproximadamente 260 mil quilômetros rodados e carrega em seu interior uma mala antiga do ex-prefeito. Ainda na década de 60, após advogar para uma pessoa de Campo Mourão, Milton foi pago com a mala. “A pessoa não tinha dinheiro, então deu a mala”, lembrou Marcus.

Milton foi prefeito a partir de janeiro de 64. Permaneceu até 67, mas deixou a prefeitura seis meses antes. Isso porque foi efetivado como juiz federal em Curitiba, até 1988. Depois disso foi Presidente do TRF em São Paulo, permanecendo no cargo até 1992. Em 1993 o ex-prefeito foi promovido a Ministro do STJ em Brasília, atuando até 2002. Mesmo distante das terras vermelhas de Campo Mourão ele jamais se esqueceu das pessoas daqui. Tanto é verdade que, segundo Marcus, negava muitos convites Brasil a fora. Mas quando se tratava de sua cidade, não abria mão. “Sempre que era convidado a ir até Campo Mourão ele dava um jeito”, disse.

Milton morreu em 15 de fevereiro de 2012, em Curitiba, vítima de câncer no pulmão. Morreu horas depois que sua esposa, Rizoleta, também com a mesma doença. Os dois, inclusive, ficaram juntos na UTI. Deixaram cinco filhos, Gisele, Gislene, Celso, Luciene e Marcus. A transparência e honestidade implantadas por ele enquanto prefeito de Campo Mourão jamais foram esquecidas. Tanto é que é lembrado até hoje. Marcus lembra que quando o pai deixou a cidade até acumulou dívidas. Afinal de contas ele ganhava bem mais como advogado do que como prefeito. O filho também carrega ensinamentos deixados pelo pai. “Ele lamentava fatos políticos de corrupção. Mas falava sobre isso apenas com a gente. Jamais teceu comentários enquanto juiz”, disse.

A vinda do Fusca a Campo Mourão nos próximos dias também tem como objetivo divulgar o Instituto Milton Luiz Pereira. Na verdade, um órgão criado por Marcus cujo foco principal é a educação. Já, há alguns anos ele vem arrecadando materiais para doação a creches da capital. Uma jovem sem recursos financeiros também é bolsista de Direito na PUC de Curitiba. “O Instituto paga suas mensalidades. A meta é aumentar as bolsas”, explicou Marcus. A intenção é que a população de Campo Mourão acredite na ideia e passe a colaborar com o órgão.

Instituto Milton Luiz Pereira

É uma associação sem fins lucrativos, que visa realizar eventos para discussões de temas jurídicos e sociais, bem como promover ações sociais, mediante campanhas e convênios, unindo assim as duas grandes vocações (jurídica e humanista) de seu patrono, que lhe deu o nome. No segundo aniversário de seu falecimento, familiares e amigos do Ministro Milton decidiram continuar a sua obra e divulgar os seus princípios, por meio de uma associação que congregue todos aqueles que compartilhem seus ideais e creiam ser possível ajudar a construir uma sociedade mais justa e solidária.


De modo geral, podem se associar ao Instituto todos aqueles que querem ajudar a realizar as suas ações e objetivos. Amigos do Ministro Milton, profissionais do direito e de diversas outras áreas, voluntários que, da forma que podem, contribuem com os eventos e campanhas promovidas. Reúne personalidades eminentes em encontros, seminários, publicações e estudos jurídicos diversos; Por outro lado, usa dos frutos desses eventos para firmar convênios e campanhas para diversas ações sociais, como assistência jurídica, médica e odontológica gratuitas para necessitados, bolsas de estudo para crianças carentes, angariação de fundos para obras sociais. Saiba mais no site http://imlp.org.br

Um cidadão chamado Elmo Linhares

Um cidadão chamado Elmo Linhares

Dilmércio Daleffe



Elegante. Diplomático. Ético. Cavalheiro. Quem não o conhece chega a pensar tratar-se de um juiz. Mas não. Mesmo com todas essas qualidades, a maior delas ainda é a cidadania. Sim, José Elmo Álvares Linhares tem na vontade em ajudar sua comunidade a grande virtude. Talvez por isso, a melhor característica deste mourãoense, seja o voluntariado. Afinal, quase tudo o que fez na vida, seja na política, na faculdade ou na Santa Casa, foi pensando no bem da população. Agora, diante de sua atuação – como um verdadeiro cidadão – ele recebe hoje o Título de Cidadania Honorária de 

Campo Mourão. Uma honraria digna de quem fez e continua fazendo a diferença.
Elmo nasceu em Nonoaí, Rio Grande do Sul, em 1944. De família pobre, perdeu o pai ainda aos 13 anos de idade. Na infância, em Sarandi, também no Rio Grande do Sul, foi engraxate. Entregou pães numa carroça e, enquanto criança colaborou com a família na roça e na criação de porcos. Era apenas o início de muitos obstáculos que viriam pela frente. Com o tempo ele terminou os estudos e, finalmente, conseguiu chegar à universidade. Fez direito na Federal do Paraná e foi lá que sua vida começou.

Ainda na universidade, Elmo conheceu, namorou e casou com a companheira pra toda a vida, Márcia Maria Queiroz Linhares. Os dois faziam o mesmo curso. Após formados fixaram residência em Campo Mourão, onde a família dela já havia morado. “O meu sogro me convidou para conhecer Campo Mourão. Eu vim com ele e gostei do que vi. Depois disso vim com a Márcia em definitivo, pra nunca mais sair”, disse Elmo.

E foi aqui onde Elmo adotou e foi adotado pelas terras vermelhas da cidade. Passou a trabalhar como um dos poucos advogados da época, 1972. Conheceu pessoas boas e iniciou uma carreira privilegiada. Em Campo Mourão nasceram seus três filhos, Marcel , Alexandre e José Elmo. Atualmente são três netos. Junto aos filhos, paralelamente, Elmo fazia carreira não só como advogado, mas também como cidadão.

Antes mesmo de ser considerada uma faculdade estadual, a Fecilcam sofria com a falta de recursos. Foi então que Elmo recebeu o convite do Professor Ephigênio para que colaborasse com as aulas de “Teoria Geral do Estado”. “Dava aulas para realmente ajudar. O que recebia não pagava nem a gasolina que eu gastava para ir até a faculdade. Era para contribuir mesmo”, revelou.

Em 1988, foi vice-prefeito de Augustinho Vechi. Chegou a ser prefeito interino por duas vezes. Numa delas sancionou a lei que criou o prato típico da cidade, o Carneiro no Buraco. Pragmático, Elmo sempre gostou de resultados. Então, ao invés de apenas figurar como vice, arregaçou as mangas e iniciou alguns projetos visando a melhoria da cidade. O calçadão é um exemplo. “Eu achava o nosso centro feio. Então o Augustinho me autorizou a arrumá-lo. E o fiz”, lembra. Segundo ele foi um tempo muito bom, quando pode servir a população.

Na mesma época foi secretário de Indústria e Comércio de Campo Mourão. Ele lembra que muitas famílias deixavam a cidade para fazer compras em supermercados de Maringá, inclusive ele próprio. Então, conseguiu trazer o Super Muffato e, assim, iniciou um atrativo de famílias da região ao comércio da cidade. “Além do Muffato dar certo, o Paraná cresceu e aumentou. Além disso temos o Carreira e mais recentemente, o Big. Ou seja, a cidade virou um polo supermercadista. Ninguém mais sai daqui para comprar alimentos fora”, disse.

Em 1992 Elmo tentou a prefeitura, mas perdeu para Rubens Bueno. Queria desta vez fomentar o polo atacadista. Mas não pode fazê-lo. Anos depois tentou eleição para deputado estadual e, segundo ele, “graças a Deus eu perdi”. “Não era para mim. Abandonei a campanha antes de terminar. Gosto de resultados e como deputado não estaria feliz”, ressalta.

Mas falando em política, Elmo acredita que o sistema brasileiro está errado. E há muito tempo. Para ele, os interesses nacionais nunca são colocados em primeiro lugar. “Não são todos corruptos. Mas a maioria trai o eleitor e vende um mandato que não é dele. É do povo. Acredito que somente as próximas gerações poderão mudar a política brasileira”, afirma.

SANTA CASA

Mais adiante Elmo teria pela frente o maior desafio de toda a sua vida: presidir a Santa Casa de Campo Mourão. Durante quase quatro anos ele dedicou, voluntariamente, parte do tempo ao hospital. Foram lutas travadas. Batalhas vencidas e perdidas. Duelos com o governo. Dilemas com pacientes. E, nas camas hospitalares, Elmo quase caiu. Diante de tanto desespero, quase sempre em torno de dinheiro que faltava, o presidente entrou em fase de stresse.

Numa ironia do destino, Elmo passou a ter pressão alta, um aneurisma, chegando a ter uma artéria dilatada. “A minha aflição chegou a me deixar doente. Afinal, nós lidamos ali com a vida das pessoas. Tínhamos que ter remédios, médicos, tudo. E quando o dinheiro não chegava do governo era um desespero”, lembra. Com os problemas de saúde, Elmo foi obrigado a deixar o posto. Mesmo assim, ele acredita ter feito, mais uma vez, seu papel de cidadão. Contribuindo com um hospital que está a serviço de toda região.

Numa síntese de sua vida, pode-se afirmar que Elmo sempre dedicou sua intelectualidade a serviço do bem. “Procurei fazer por minha cidade o que desejava para minha própria família”, disse. Segundo ele, se todos pensarem apenas em si mesmos, não existirá uma sociedade, uma cidade. Têm-se que pensar coletivamente. Doar-se aos outros. “Cada um tem que dar uma parte ao social, ao voluntariado”, afirmou.


De uma forma geral, Elmo acolheu Campo Mourão como a sua cidade há 45 anos. E a recíproca também é verdadeira. Do mesmo jeito, Elmo foi acolhido como um membro importante de sua comunidade. Afinal, quando alguém está apto a contribuir para o desenvolvimento social e moral do seu meio, este sempre será considerado como um real cidadão.

Um homem. Um secretário. Um servidor. Um Super Homem

Um homem. Um secretário.
Um servidor. Um Super Homem


Dilmércio Daleffe



Ele acorda por volta das cinco da manhã. Antes de sair veste uma camiseta azul do Super Homem. No trabalho, mesmo sendo Secretário de Obras, une-se a equipe sem mostrar-se superior.  Bate o cartão como todos e, numa intensa jornada diária, deixa o ar condicionado da prefeitura para arregaçar as mangas e fazer o que tem que ser feito, agora na rua. Márcio Ferreira é servidor municipal de Ponta Grossa. Desde o início do ano vem chamando a atenção pelos vídeos postados no FaceBook. Lá, revela toda sua revolta pela falta de educação frente ao lixo depositado em rios e cidade a fora. Com chutes e murros em entulhos, passou a ganhar força no apelo à conscientização da população.

Formado em jornalismo, Ferreira é casado, possui uma filha e é crente em Deus. Ponta Grossense convicto, agora como Secretário Municipal, vem contribuindo à melhoria da vida de sua população. E isso é facilmente evidenciado nas redes sociais. Não há um só dia em que ele não seja desafiado por alguém. Ao lado de sua equipe, vai atrás dos problemas apontados pela comunidade. Uma vez no trabalho, mata a cobra e ainda mostra o pau. E é com esse “jeitão” inovador que vem fazendo dele um cara diferenciado.



Há alguns dias, revoltado com entulhos jogados próximos a um arroio, Ferreira partiu uma folha de Eternit ao meio com um murro. Logo em seguida deu um chute numa lata de tinta, arremessando-a metros de distância. “Isso é uma vergonha. Não pode acontecer pessoal”, dizia furioso no vídeo. Ferreira não é político. Ele é apenas um homem. Um homem honesto. Como servidor público, vem descobrindo o verdadeiro sentido de fazer política. Ou seja, sua missão é acima de tudo transformar o dinheiro dos impostos em melhorias a sua gente. Afinal, ser político é servir.

“Assim como em todo o Brasil, aqui também temos falta de recursos. Mas nosso prefeito - Marcelo Rangel (PPS) - tem conseguido honrar os compromissos trabalhando muito. Nós vamos para a guerra com o que temos, mas também com muita atitude e dedicação, só assim poderemos vencer os desafios”, disse. Segundo ele, os servidores recebem em dia, sem atrasos. Até o 13º salário foi pago adiantado. Para ele, não existe outra saída que não seja o trabalho. “Há 20 anos a secretaria de obras tinha 1080 funcionários. Hoje são apenas 370”, lembrou.

Ferreira acorda todos os dias as 5h25. Ao chegar à prefeitura toma café com a equipe e, a partir das 6h30, inicia as reuniões. Cada um dos servidores sabe o que fazer, disse. Então, divide as turmas e vão as ruas. “O principal é a dedicação e as atitudes, sempre em prol da cidade, sem egos ou interesses pessoais”, revela.  E o trabalho não pode parar. Isso porque, segundo ele, Ponta Grossa tem uma área do tamanho de Londrina e Maringá juntas. São mais de 1,7 mil quilômetros de estradas rurais, 20 bairros e mais de 120 vilas. Atualmente, 40% das ruas da cidade são de terra, com uma topografia muito inclinada e difícil de trabalhar. “Muitas vias estão sem galerias, próximas de arroios, que geralmente inundam os bairros em épocas de chuvas”, ressalta.  Ponta Grossa tem quase 200 anos e não foi planejada como Maringá ou Londrina. “Tudo é muito mais difícil aqui”, disse.
Frente à força de vontade na secretaria, Ferreira inovou mais uma vez. Quase sempre veste uma camiseta do Super Homem. Trata-se de uma brincadeira, mas com cunho verdadeiro. Ele homenageia os próprios membros da equipe. “Uso em homenagem aos funcionários da Secretaria de Obras. Homens simples, que trabalham na chuva, no frio, no vento e no relento e nunca desanimam. São extremamente trabalhadores e eu sempre os chamo de super homens”, disse. Vez em quando, Ferreira até coloca uma capa vermelha, para incrementar ainda mais a  homenagem.

Defensor da natureza, o secretário não aceita ver tanta poluição. “Temos 150 arroios e 155 quilômetros de arroios poluídos. Nunca tivemos políticas públicas nesse sentido. Uma grande vergonha”, afirma. Segundo ele, quando um rio morre, morrem todos que vivem dentro dele, e também os que vivem em torno dele. “A água é o bem mais precioso do planeta. É inadmissível e inaceitável nossos arroios estarem em condições tão deploráveis”, disse. “Estamos realizando a limpeza constante em 20 arroios, mas isso é menos de 20% de todos eles. É um trabalho que tem que ser feito pelos próximos governos. A população tem que ajudar, por isso tento chamar a atenção de todos para o problema, demonstrando minha indignação com chutes e pontapés no lixo”.


Ferreira disse que se fizesse um vídeo normal, apenas mostrando o problema ninguém daria bola. Mas hoje, as pessoas já o conhecem pelos murros e chutes que desfere no lixo. “Já tem pessoas fazendo vídeos nos bairros socando televisores, e pneus também. Virou uma febre, mas para o lado bom, da defesa da natureza”, disse. De acordo com ele, as pessoas começaram a recolher lixo da rua, minimizando parte dos problemas. E desta forma, Ferreira começa a colher frutos de seu próprio exemplo.  Tomara que seus passos comecem ser seguidos também por secretários de outras cidades. Afinal, bons exemplos não podem parar. 



quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O exército de Paula, José, Rodrigo, Lucas, Willian e Juliano

Grupo de voluntários decide pintar Santa Casa de C. Mourão


De que vale a vida senão ajudar o próximo? Uma vida fútil, com objetivos financeiros, materiais, mas sem a emoção em contribuir com a própria comunidade? Isso vale a pena? Se acredita que pode fazer mais pela sua própria raça, sem pensar em dinheiro, então aliste-se ao grupo de voluntários da Santa Casa.

Dilmércio Daleffe

No dicionário a palavra voluntário significa uma pessoa que age de acordo com sua própria vontade. Um ser caprichoso, voluntarioso. Alguém que se alista espontaneamente num exército sem obrigação a nada, a não ser, com o bom senso. Sendo assim, pode-se considerar Willian, Lucas, Juliano, Rodrigo e José como verdadeiros voluntários da Santa Casa de Campo Mourão. Desde a última semana, eles doam parte de seu tempo de lazer para contribuir gratuitamente com a pintura de algumas alas do hospital. Pessoas tão diferentes umas das outras, mas, ao mesmo tempo, com qualidades tão próximas.




Coração grande, atitude, senso coletivo, audaciosas, generosas, solidárias. Assim são algumas características de pessoas voluntárias. Juntas, elas podem minimizar os dias ruins que uma comunidade vem passando. Sozinhas, são capazes em diminuir o mal dos homens. Têm a força para transformar o planeta numa corrente do bem. Rodrigo Lucas Hort deixou seu domingo de lado para pegar no pincel em prol de pessoas que ele nem conhece. Como auxiliar administrativo da Coamo, decidiu ajudar o ambiente da Santa Casa ficar mais bonito. “Acho que se os doentes vierem para um local feio, chegam até a piorar. Mas ao contrário, se estiverem num ambiente bonito podem até melhorar”, acredita ele.

Aos 24 anos, ele ainda é bastante jovem para entender o mundo. Mas aprendeu bem cedo a ter atitude. O bom senso em favor de sua comunidade veio antes mesmo da chamada “experiência” de vida, a mesma que muita gente por aí julga ter. “Eu não tenho nada a ver com pintura. Trabalho numa empresa para ajudar a administrá-la. Mas sei que mesmo assim pude contribuir um pouquinho com o hospital”, disse. Ele lembra que faz parte de um grupo de ciclismo da cidade. E foi lá onde reuniu Willian, Lucas e Juliano para também contribuírem com o voluntariado da Santa Casa. Juntos, os quatro doaram parte de seu domingo às paredes da “Santinha”. “Me fez muito bem ajudar. Neste próximo domingo vamos retornar e colaborar novamente”, disse. Mais uma vez, o coração grande falando mais forte.

José Alberto Zambonini tem 52 anos. É pintor profissional há 15. Também decidiu abrir o coração a uma justa causa. “Deus sempre foi tão bom comigo. Agora tenho que retribuir tudo o que ele vem fazendo por mim”, revela.  “Me sinto bem em ajudar. Minha esposa faz tratamento na oncologia e por isso vejo a necessidade em colaborar também”, disse.  Conhecido por “Alemão”, José é exemplo vivo de que ainda é possível acreditar no voluntariado. Segundo ele, estender o braço à comunidade, de forma honesta e gratuita, não é feio. Ao contrário, é digno. Um gesto bonito, de grandeza. Afinal, de que vale a vida sem ajudar o próximo?

Paula Renata Domenici é uma assistente social vinculada à Santa Casa. Bonita por dentro e por fora, a menina é uma guerreira. Ela sabe que a instituição não possui recursos para as benfeitorias. Por este motivo, ela arregaçou as mangas e vem coordenando os voluntários. Aos 29 anos, é uma apaixonada pelo hospital. E não ganha a mais por isso e, muito menos, tem projeções políticas. No fundo, também mantém um coração grande, voluntário, esperançoso. “Temos algumas pessoas da sociedade que nunca falaram não aos nossos pedidos. E é através delas que temos conseguido o sucesso para pequenas reformas”, disse.

O trabalho começou ainda em 2016, quando precisavam melhorar a pintura da ala pediátrica. Algumas pessoas apareceram, ajudaram a pintar. Outras deram as tintas. A ala está perfeita. Mesmo concluído o trabalho, as pessoas continuaram aparecendo para ajudar. Então, veio a ideia em continuar a pintura a outras alas. Neste momento, a ajuda é para a recepção do SUS e a triagem oncológica. “Se pudermos receber mais ajuda, vamos seguir por todo o hospital”, disse. Segundo ela, se fosse para a instituição bancar toda a pintura, seriam necessários cerca de R$100 mil. “Esse dinheiro é impossível no momento. Por isso a importância do voluntariado. E eles nunca nos abandonam”, revelou.

Paula informa que as tintas ainda são necessárias. O que ganharam está no fim. Mas quem puder fornecer mais material basta levar até ela. Assim como novos voluntários podem se apresentar. Todos são bem vindos. De acordo com ela, existem centenas de “corações grandes” em toda a região. Dia desses um homem de Terra Boa esteve no hospital. Ele queria colaborar, mas não sabia como. Então Paula deu uma volta com ele pelas alas. Notou que em alguns quartos não havia ventilação. O calor era grande. Foi aí que ele olhou para ela e concluiu: “Vou comprar 16 ventiladores para estes apartamentos”. Um dia depois o homem trouxe o dinheiro e a Santa Casa comprou os ventiladores. Ele preferiu não ter o nome revelado. Trata-se de um voluntário, também de coração grande. “Assim como tantos, ele é um anjo do hospital. Temos muitos, mas queremos mais”, disse Paula. Ela também possui um objetivo em recrutar um exército de voluntários ao hospital. “Pretendemos criar um grupo de ajuda. Quem desejar ser membro do time basta nos ligar”, explicou.

O exemplo e a força de todos esses voluntários é apenas mais um reflexo da própria instituição. Lá atrás, ainda na década de 80, alguns empresários e médicos da cidade se uniram para transformar a Santa Casa. Como não havia dinheiro, voluntariamente, decidiram fazer um trabalho de formiguinha. De casa em casa foram pedindo tijolos, pedras, areia, cimento e tudo mais que pudessem doar. E foi desta maneira que o atual prédio do hospital começou a ser levantado. Ou seja, voluntários iniciaram o sonho. Hoje, voluntários continuam o sonho. Amanhã certamente novos voluntários terão que participar. Em suma, a Saúde neste país é apenas mais uma piada de mau gosto. Aqui não existe dinheiro, mas sobram doentes e filas.

O que levar:
Cor erva doce – acrílica lavável – acetinada
Rolos
Pincéis
Lixas
Onde levar: Hospital Santa Casa de Campo Mourão
Telefone: 3810-2100 – ramal 2105

Falar com Paula ou Valéria