Laércio não sabe ao certo a idade. Caiu nas ruas há tempos depois de uma desilusão amorosa. Perdeu o amor próprio, a identidade a a esperança. Mesmo assim, continua vivendo, apesar de seu isolamento. Como consequência, tornou-se invisível aos olhos da sociedade. Vive sua solidão em companhia da rua, das madrugadas frias, da cidade calada. Entre 90 mil habitantes, fez suas próprias escolhas, e preferiu viver numa ilha.
domingo, 22 de março de 2015
domingo, 15 de março de 2015
Eu vi, eu estava ali
Dilmércio Daleffe
Hoje, eu vi um recomeço. Cansada de tanta corrupção, parte
da população mourãoense foi às ruas. Foi pra rua pedir um basta. Eu vi gente de
bem querendo mudança. Numa manifestação pacífica, pessoas gritaram, apitaram,
cantaram. Pediram a saída da Presidente Dilma, o fim do “imperialismo” petista,
o término das quadrilhas organizadas em várias esferas do governo.
Acordei cedo, quase não dormi, e presenciei uma
possibilidade de transformação. Eu vi famílias de mãos dadas. Crianças com
carinhas pintadas e marmanjos indignados. Vi a alegria de uma população saudável,
mas desejando o fim de um país definitivamente doente. Vi médicos, dentistas,
simples trabalhadores. Vi estudantes, advogados, até mendigos eu observei. Todos
estavam lá. Praça Getúlio Vargas, 9h da manhã. Um dia histórico.
Faixas, cartazes, gritos de ordem. Discursos emocionados de
cidadãos. Pela primeira vez, políticos não tiveram voz. Apenas escutaram.
Clamando uma nova era, as pessoas desejam mudanças. Constatou-se, enfim, que a
corrupção quebrou a maior empresa do país. A Petrobras foi usada para alimentar ratos e bandidos. Finalmente, a multidão entendeu que
o Brasil deve ser feito em favor dos brasileiros e não contra os brasileiros.
Eu vi gente chorar. Vi mulheres emocionarem-se e idosos extravasarem.
Finalmente, identificou-se o sangue maldito -, herança de
uma mistura interracial que não deu certo -, que corre nas veias da população.
Nós brasileiros, temos um fraco pela corrupção. Sim, devemos fazer um “mea
culpa”. Todos os “sistemas” implantados aqui estão infectados por este mal. Não
adianta negar. Mas chegou a hora de nos recuperarmos. Acordamos? Isso ainda não sei. Mas hoje, eu vi nos
olhos das mais de duas mil pessoas que ali estavam uma vontade de acordar. Todos querem dizer um não a
corrupção.
Mas para que isso ocorra, a multidão não quer mais este
governo. Dilma é no mínimo, conivente com o sistema. Antes dela, Lula já sabia.
Mas foi blindado. Definitivamente, a estrela no PT se quebrou. O pior de tudo é
que o partido não admite suas falhas, seus erros, suas mentiras, seus roubos.
As pessoas decidiram romper. Eu vi a insatisfação nas ruas.
Bem certo e verdadeiro é que outros partidos também não
assumiriam os próprios erros. Trocar Dilma por Temer, ou Aécio, ou qualquer
outro, agora, seria a mesma coisa. Mas como somos movidos por esperança,
qualquer coisa agora será melhor.
Certamente, depois de hoje, o país será diferente. Estamos
pedindo uma mudança. Eu vi o clamor e o desejo de todos ali. Numa mesma
manifestação estavam todos unidos. Católicos e evangélicos. Brancos e negros.
Ricos e pobres. Novos e velhos. Todos cantaram o Hino Nacional em uma só voz. Se
for para recomeçar um novo país, até o sangue derramado terá valido a pena. Eu
senti isso. Eu estava ali! Somos um povo de paz. Mas se nada mudar, também sabemos lutar!
domingo, 1 de março de 2015
Pedro, o Michael Jackson de Ivailândia
Dilmércio Daleffe
Aos domingos, ás margens da PR-317, no distrito de
Ivailândia, uma cena chama atenção de quem passa. Não se trata de nenhum louco,
tampouco um bêbado, ou alguém imitando Carlitos. Mas sim um homem de preto, vestido
de Michael Jackson com chapéu e peruca. Não bastasse a caracterização marcante,
ainda fica a dançar ao lado da rodovia. Mas quem é ele? Por que faz isso? O que
leva uma pessoa a fantasiar-se e dançar em manhãs chuvosas ou não de domingo, em
plena estrada?
Ele é Pedro Pereira da Costa, tem 47 anos e vive em virtude
de seu ídolo. Durante toda a semana, levanta cedo para trabalhar. Mas no
domingo, tem outra missão. Vestido como Michael Jackson, “Fininho”, como é
conhecido, tem encontro marcado com pessoas com quem jamais pensou ver.
Acompanhado de seu velho aparelho de som, vai até a rodovia, ainda cedinho, e dança
coreografias do cantor norte americano.
Levado por uma emoção contagiante, Pedro faz o que faz
apenas por um único motivo: ele ama Michael Jackson. Então, desde 2010, começou a produzir a
própria roupa e a partir daí, vem mostrando sua arte na rodovia. Dança o dia
todo para pessoas as quais nem conhece, que nunca viu. Passou a ser uma figura inusitada
aos motoristas que por ali passam.
Pedro sempre foi pobre. Perdeu os pais ainda cedo e, por
isso, teve que se virar em dobro. Já trabalhou de tudo um pouco. Agora é
servente na construção civil. “Eu não tenho nada. Sou pobre. Não tenho nem
casa”, disse. Hoje, mora de aluguel num único cômodo, num imóvel de madeira. Entre
os poucos pertences estão dvd´s, cd´s, livros e antigos vinis do ídolo. Num
outro canto, os trajes feitos por ele mesmo. Dois pares de óculos, um chapéu,
uma calça pintada em listra e, por fim, a peruca. Tudo improvisado. Do jeito
que é possível.
Junto a sua paixão, Pedro vive num mundo só dele. Quase sem
família – tem apenas uma irmã em Maringá -, dedica grande parte de sua vida à
solidão. Talvez por esse motivo fique na rodovia a dançar. Afinal é ali onde
muitas pessoas param os carros pra conversar e tirar fotos com ele. “Eu gosto
de ser reconhecido. Quero levar alegria às pessoas”, afirma.
“Fininho” é fã de Michael Jackson desde os 22 anos. Achava
incrível como aquele americano cantava e dançava ao mesmo tempo. Seus passos e
coreografias o impressionam até hoje. Inevitavelmente atordoado com o talento
do cantor, passou a seguir seus passos. Sua incansável paixão pelo astro morto
é tanta que, no último domingo, estava a dançar – pasmem - sem música. Seu
velho aparelho quebrou e, mesmo assim, foi pra rodovia sem as músicas que o
encantam. “Danço sem música mesmo. Não tem problema não. Daqui uns dias alguém
me ajuda com o aparelho e está tudo certo”, brinca ele.
Pedro é católico e confia em Deus. Não deseja muito da vida. Quer apenas ser feliz. Logicamente pensa em conseguir uma casa só sua, ter um carrinho e, por fim, uma esposa. Nada disso ainda aconteceu. Mas ele não tem pressa. “Enquanto não consigo nada, vou vivendo e trabalhando”, disse. Mas claro, sem deixar de prestar as homenagens de sempre ao ídolo americano. Por isso, se viajar por Ivailândia e, na estrada verificar Michael Jackson dançando sobre a pista, não se assuste. É apenas o Pedro. Pare o carro e tire uma foto ao seu lado. Ele vai gostar!
Assinar:
Postagens (Atom)