domingo, 19 de maio de 2013

Luciano e as suas mais de 60 noivas



Ele casou apenas uma única vez. Mas ao longo dos seus 67 anos, colecionou mais de 60 noivas. O empresário Luciano Andrade Aires é apenas um chofer de noivas. Faz isso voluntariamente apenas por diversão, ou melhor, pelo convite da festa.



Dilmércio Daleffe

Em toda sua vida, ele imaginou levar uma única noiva ao altar: a própria esposa, Dirce. Mas ao longo dos anos, não foi bem isso que aconteceu. Aos 67 anos de idade, Luciano Andrade Aires levou bem mais de 60 “prometidas” à igreja. É que, como hobby, se transformou numa espécie de chofer matrimonial. Desde a década de 80, Luciano vem conduzindo nubentes de Campo Mourão para o altar voluntariamente, sem nada cobrar pelo serviço. Ou melhor, apenas em troca do convite da festa. Ao invés de trabalho, um prazer, uma diversão. Entre a tensão e o nervosismo das noivas, Luciano chega brincando, sempre com uma piada pronta e uma cerveja escondida no isopor. No interior dos carros antigos de sua coleção, muitas histórias por contar.

Luciano é um cearense que perdeu-se nas terras vermelhas de Campo Mourão há mais de 40 anos. De sorriso fácil, é difícil vê-lo triste. Piadista e satírico possui algumas coleções. Primeiro de carros antigos. Depois de amigos. É daqueles que tem como lição de vida sorrir o tempo todo. “Quem não da risada morre mais cedo”, acredita. Empresário do ramo de motores, iniciou uma coleção de antiguidades de dar inveja. E foi aí que tudo começou.

Ainda na década de 80, uma ex-funcionária decidiu se casar. Foi então que teve a idéia de oferecer ajuda, levando-a com um dos veículos da coleção até a igreja – na época um Galaxy ano 74. A satisfação da noiva foi tamanha que Luciano decidiu ali, naquele instante, que havia descoberto um novo hobby: conduzir “prometidas” até o altar. E elas foram muitas.



Hoje em dia, a maior parte das nubentes que transporta são filhas de amigos e conhecidos. Mas nem sempre foi assim. Ele conta que muitas pessoas, sem o conhecer, vão até sua empresa para contratar o serviço. Chegam, perguntam, depois escolhem o carro e, por último, querem saber o valor. “Sempre falo que o preço é o convite do casamento. Quero ir pra festa”, diz. Luciano conta que jamais fez distinção por classe social. “Jamais pensei nisso. Levo todas que eu puder. Quero apenas diversão”, disse.

Como funciona

Depois de marcado o compromisso, Luciano vai até o salão de beleza ou hotel em que a noiva se arruma. Chega com o carro escolhido e fica a sua espera. De quepe – o chapéu do chofer – ele abre a porta e a acomoda. Já no interior do veículo lá vão os dois rumo a igreja. Para tirar a tensão da nubente, Luciano faz umas piadas e até oferece uma cerveja gelada. A maioria delas aceita. “É pra quebrar aquela tensão. Todas estão muito nervosas e aí eu entro na história pra acalmar um pouco”, diz.

Vamos pro boteco?

Certa vez, Luciano transportava uma de suas noivas até uma igreja do Jardim Santa Cruz quando veio o recado de parentes que a missa estava atrasada. Rodou com a noiva por vários minutos até que os preparativos do casamento tivessem início. Vendo o nervosismo da moça, decidiu parar num boteco para distraí-la. “Vai uma cerveja aí”? perguntou. E ela aceitou de pronto. Tomaram não uma cada, mas três. “Fiquei preocupado com ela. Perguntei se não iria ficar apertada durante a cerimônia. Ela disse que se controlaria”, revelou.



As histórias envolvem comédias da vida moderna. Luciano presenciou de tudo um pouco, afinal, ele estava lá. Certa vez, já em frente à igreja, a noiva ainda dentro do carro pergunta a mãe se ela havia trazido as alianças. Ela esqueceu-se. Depois de um corre-corre danado, tudo resolveu-se e então a noiva deixou o veículo. Assim como as alianças, Luciano já viu uma correria em busca do buquê da noiva. Ele havia sido esquecido também. Além disso, vestidos descosturados e pequenas discussões são comuns.

 À volta ao carro

Enquanto a noiva casa, Luciano fica do lado de fora da igreja, cuidando do veículo. Mas quando existe um boteco perto, ele prefere experimentar uma gelada. É sempre assim, e sempre será. Mas depois do padre finalizar a cerimônia, Luciano já está à espera, com as portas abertas do carro. Mas ao invés apenas da noiva, também vem o noivo. “Não tem como. O ´demonho´ sempre vem junto”, brinca ele. Junto ao casal, o chofer aproveita para dar conselhos. “Eu digo apenas uma coisa: não briguem. Isso não leva a nada, principalmente, porque não vão convencer alguém irritado. Além disso, nas discussões, o pior de tudo é desenterrar defuntos”, diz. Segundo ele, se conseguir, evite a discussão.

O carro então segue as determinações dos fotógrafos, que levam o casal até um local da cidade para as fotos. Somente depois disso, é que os noivos e, consequentemente, Luciano, chegam ao local da festa. Lá, o veículo estaciona em local estratégico e os três rumam à festa. Os noivos pra um lado e Luciano pro outro. Somente depois de horas, já na madrugada, os três voltam a se reencontrar. Mas daí todos já descontraídos, sorriem. A tensão já era. Luciano lembra que no começo de seu hobby ele ficava até o fim da festa para levar os noivos ao hotel. Mas agora, decidiu sair um pouco antes. O pique não é mais o mesmo. E além disso, ele tem que cuidar mesmo é da única e inseparável noiva de sua vida, a Dirce. 

Um comentário:

  1. Cunhado querido, sempre alegre memso, sempre com suas brincadeiras e uma palavra amiga, que bom essa reportagem pra todos saberem como é vc de outro lado, que alguns não conhece.. bjus e parabéns pela reportagem...

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