Dilmércio Daleffe
Júlio é apenas Júlio. Mostrando sofrimento nos pés e no rosto, diz ter apenas 30 anos de idade. Mas não é bem assim. Certamente possuí seus sessenta e poucos, e continua a andar pelas estradas do país. Ele é mais um andarilho, daqueles que não gosta de pessoas por perto. Evita o ser humano, mas se condiciona à rodovia. Seja ela qual for. Sem querer prosa à entrevista, acabou falando. Pouco. Mas falou.
Seu nome é somente Júlio. Não sabe o sobrenome. Perdeu os documentos já há bastante tempo. É, portanto, mais um entre milhares de invisíveis brasileiros a rodar por aí. Foi encontrado na BR-369 próximo a Ubiratã. Disse estar vindo de Foz do Iguaçú, onde passou alguns dias. Estava sentado sobre a armação de um guard rail. Cansado e sedento, reunia forças para caminhar mais 20 quilômetros. Carregava um saco nas costas. Dentro, levava algumas roupas, cobertas e esperança.
“Ainda não comi nada hoje não senhor”, disse o caminhante. Segundo ele, já teria andando cerca de 20 quilômetros na parte da manhã. Mas o sol e o calor eram demais. Ele sufocava. Júlio é um senhor de idade. Tem os cabelos longos. Mostra perseverança. Calçava um tênis Nike já surrado pelo asfalto. Os dois pés estavam furados. Pelo caminho diz que vai ganhando sapatos, comida e água. Únicos combustíveis pra quem decidiu sair pelo mundo.
Em sua trajetória não deseja muito. Quer chegar ao estado do “Ivaí”. Não soube explicar melhor. Diz não adentrar às cidades por onde passa. “Prefiro evitar as pessoas”, disse. Por isso, dorme em pontos de ônibus pela rodovia. A roupa suja indica indisciplina quanto à higiene. Não liga pra isso. Acredita em Deus e diz caminhar ao seu lado. Júlio é um cara sofrido. Certamente mantém uma história escondida. Um drama familiar enterrado por aí. Mas este é um problema seu. Não quis dividi-lo.
Júlio segue as placas. Mas anda sem direção. Não sabe pra onde vai, nem quem quer encontrar. Está sozinho no mundo há bastante tempo. Passa dias sem conversar. Mas parece ser isso o que traçou. Seus sonhos deixaram de ser grandes, como os de meninos. A luta agora é apenas pela sobrevivência. Deixou o mundo dos problemas para aventurar-se numa única estrada: a vida.
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