domingo, 13 de dezembro de 2015

Enterrado vivo Rodrigo se redimiu

Era um dia normal a tantos outros. Ali, naquele matagal, uma pá lhe foi entregue. Então cavou por horas um buraco com quase dois metros de profundidade. Mal sabia ele que aquela cova, mais tarde, era pra ele mesmo. Rodrigo - nome fictício por razões óbvias - foi obrigado a adentrar em sua própria obra. Com os braços rentes ao corpo foi soterrado por inteiro. Permaneceu vivo sob a terra por cerca de cinco minutos. Mas um dos elementos pertencentes ao tráfico decidiu voltar e salvá-lo. Rodrigo havia entrado no caminho das drogas e já, aos 17, era traficante. No conflito dos seus negócios, foi enterrado vivo, vítima do mundo doentio do crime. Hoje, aos 29, descobriu que no mundo não existem heróis. Decidiu então seguir a palavra de Deus e, parece ter sido salvo por ele.   



Dilmércio Daleffe

Aos 14 anos de idade, já influenciado por más companhias, Rodrigo – nome fictício – começou os trabalhos de sua breve marginalidade. Filho de pais honestos e trabalhadores, conseguiu desviar os caminhos ensinados para contribuir à ilegalidade com seus atos. Mesmo trabalhando desde cedo, ele é prova que, por mais que se tente, algo insiste em desvirtuar as direções corretas do homem. E foi assim que entrou no mundo do crime utilizando a maconha. Bebia, usava pó e, quando percebeu, já era dono de uma boca de fumo.

Rodrigo nasceu em 1986 no interior do estado de São Paulo. Uma cidade de médio porte, mas onde existiam inúmeras possibilidades do crime. Ao lado dos colegas de escola foi se apegando pelas coisas erradas. Ele sabia o que era certo, mas tendia ao lado errado. “Eu sabia que o que não era meu, eu não podia pegar. Por isso, nunca roubei”, disse. Mas este foi um dos poucos pecados que não cometeu.

Rodeado por rapazes viciados em assalto a carros forte, via no seu dia a dia as rodas de conversas sobre os planos futuros da turma. Embora jamais tenha participado de um desses roubos, sabia de todo o seu planejamento. “Eu gostava mesmo era de fazer a minha correria – venda de drogas -. Éramos todos amigos, mas cada um fazia o que queria. Uns assaltavam, outros vendiam”, revelou.
Rodrigo nunca temeu nada, a não ser o próprio pai. Tanto é que enfrentava a polícia e ainda dizia não temê-los. Mas um dia, o fim aproximou-se. E sempre o fim de bandido é quase o mesmo: a morte antecipada. Fazendo sua rotineira correria, eis que surge alguém disposto a tomar seu lugar na venda das drogas. E era alguém de sua própria turma.

Ele já tinha 17 anos quando, numa tarde normal, foi com seus companheiros até um matagal fora da cidade. Lá, pediram a ele que cavasse um buraco profundo a fim de ocultar um cadáver logo mais à noite. Então, com uma pá, cavou por horas um buraco de aproximadamente um metro e noventa de profundidade. Uma cova que mais tarde, embora não soubesse, seria dele.  

E assim aconteceu. Não suspeitando de nada, à noite o grupo se encontrou e, do nada, um deles encostou a pistola em sua cabeça perguntando: “O que você prefere? Tiro na cara ou enterrado vivo? Sem pestanejar, preferiu ser enterrado. Voltaram ao matagal e lá adentrou a cova passando a ser soterrado. “Diante de tudo o que vivi até aquele dia jamais havia tido alguma espécie de medo. Mas aquilo ali foi mais forte que tudo”, disse. É claro que Rodrigo não morreu. Após cerca de cinco minutos soterrado, um dos caras retornou para salvá-lo. “Era meu amigo. Não podia deixar eu ali, daquele jeito”, afirmou.    

A história desse sujeito é repleta de fatos incríveis. Como por exemplo o episódio em que outro concorrente disparou o tambor do 38 em sua face. Nenhum dos disparos ocorreu. “Acho que já nasci umas três vezes”, diz.  Rodrigo sempre foi trabalhador da construção civil. Ao mesmo tempo em que tinha vida bandida, também trabalhava. Por todos os seus caminhos, teve várias escolhas. Mas depois de saborear o crime, optou pelo lado correto. Abandonou a droga, a bebida, amigos e seguiu pelas vias saudáveis, sem maiores emoções. Hoje, um ano e meio morando em Campo Mourão, está casado, frequentando uma igreja evangélica e o mais importante: trabalhando muito. “Minha vida é esta. Sei que Deus cuida de mim, por isso estou aqui, vivo e contente”, disse.



segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Daleffest: Quando a distância não existe




Dilmércio Daleffe

Cerca de 180 Daleffes de todo país se reencontraram pela primeira vez neste final de semana, na cidade de Nova Veneza, sul de Santa Catarina. O evento, denominado Daleffest, reuniu membros da família que, até então, jamais haviam se conhecido. Trata-se de um primeiro passo para que os descendentes de italianos façam valer a força de seus antepassados. Colonizadores do sul do país vieram ainda em 1891, quando desembarcaram no porto de Imbituba. A satisfação do evento foi tamanha que, a segunda Daleffest já foi marcada para Campo Mourão, em novembro de 2017.

Da família de Campo Mourão, Denir Daleffe, 70, percorreu 900 quilômetros para participar do evento. “Isso aqui é muito bonito. Uma festa maravilhosa. Não tenho nem palavras para descrever. É mágico conhecer pessoas do nosso sangue”, disse. Denir nasceu em Treviso, cidade vizinha à Nova Veneza, e na visita, viu parentes e se emocionou ao rever a escola e a casa onde nasceu. Filho de Dionísio Daleffe – in memoriam – deixou a região ainda na década de 50, quando veio com os pais e irmãos até Campo Mourão. “A nossa casa ainda está em pé. É muito emocionante relembrar tudo o que vivi naquela época”, disse.



Edson Daleffe, aos 46 anos de idade, é de uma geração bem mais nova. Mesmo assim, também emocionou-se ao conhecer Daleffes de todo o país. Ele pertence a um núcleo que migrou para Francisco Beltrão, também na década de 50. Neto de Modesto Daleffe, hoje mora em Jandira, São Paulo, e acredita agora poder aumentar os elos que faltavam com sua família. “Uma família tão desunida, passou agora a cultivar uma paixão entre seus membros. Me comove muito ter participado desse evento. Vou levar isso para sempre”, revelou.

Patriarca de um núcleo residente em Criciúma, Santa Catarina, Élio Daleffe, 72, foi um dos responsáveis pelo evento. Neto de Antônio Daleffe, ele definiu a festa como uma inexplicável riqueza. “Fizemos com um carinho enorme. Só em saber que mais de 170 pessoas de 20 cidades diferentes deixaram seus compromissos para se deslocarem até aqui, nos deixaram muito felizes”, disse. Élio teve a colaboração de seus três filhos, Dalério, Danilo e Dionélio. Juntos, os quatro levaram atrações musicais italianas, confeccionaram camisetas e receberam um a um dos participantes com uma recepção legítima da família Real.



Mas o que move o sentimento de uma pessoa? Sem dúvida, mais que conhecer a si mesmo, ninguém é uma ilha. Talvez por esse motivo, pairou no ar um sentimento verdadeiro, de desejar ter uma família. Cada um dos participantes da festa emocionou-se de seu jeito. Muitos trocaram ideias e se reconheceram. O sangue acabou falando mais alto. De intimistas, os Daleffes passaram a aflorar algo até então, desconhecido. Brotou a semente da família. Que venha a segunda Daleffest em Campo Mourão.

O início

Tudo começou em 1891, quando Giácomo Daleffe, aos 38 anos, desembarcou com a esposa, Santina, quatro filhos, três irmãos - Gio Battista, Agostino e Giuseppe no Porto de Imbituba, Santa Catarina. Fugindo da peste e das dificuldades da Itália, trouxeram consigo a esperança nos olhos. Trabalhadores honestos, queriam apenas manter a família em terras onde pudesse plantar. Queriam paz, um canto de harmonia com suas famílias.

Então, a pé, seguiram por caminhos jamais abertos. Foram cerca de 90 quilômetros abrindo picadas com facão e foice. Carregavam malas e dormiam em meio ao mato, junto a cobras e outros animais. Tinham pouca comida e muita esperança. Finalmente, após algumas semanas de muito sofrimento, chegaram a um lugarejo conhecido até hoje como “Montanhão”, ao lado de Treviso. Um lugar bastante elevado, parecido com a Europa. E foi ali que tudo começou.

Ainda hoje, uma única família de Daleffes mora no Montanhão. Trata-se do Núcleo familiar de Alcide Daleffe, 66 anos. Filho de Ricieri Daleffe – irmão de Dioníso Daleffe de Campo Mourão – Cid, como é conhecido, continua a viver como Giácomo: da agricultura. Na vida digna e honesta, traz consigo os mesmos traços da família: bons trabalhadores. Ali, construiu sua casa ao lado da esposa Isabel e dos filhos Rodmar, 41, e Rosana, 45. “Nunca deixarei este lugar. Aqui é meu canto, meu trabalho, meu sustento”, disse.   

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Soluções do nada na terra do nunca

      O que fazer para melhorar um trânsito cheio de problemas? Não fosse uma malha asfáltica condenada, ainda resta à população conviver com a falta de investimentos, seja na melhoria de trevos ou colocação de placas e semáforos. Soma-se a isso a imprudência de motoristas embriagados, não habilitados ou, simplesmente, sem bom senso. Enquanto nada se faz, nas camas frias de hospitais, mais sequelados, vítimas e mortos. Com a falta de conscientização no trânsito, fica a pergunta: não seria a hora de iniciar uma ampla campanha para reduzir os acidentes? Onde estão as discussões sobre o tema? Quem se responsabiliza? Quem indica o caminho a seguir? Existe um líder a empunhar uma bandeira?


Dilmércio daleffe


     Novembro de 2007. O empresário e produtor rural Marlon Sedoski, 34, andava com sua moto na avenida José Custódio de Oliveira, centro de Campo Mourão, quando um motorista invadiu a via e o atropelou. Como consequência, traumas generalizados e dor até hoje. Setembro de 2014. Um motoqueiro – que preferiu não ter o nome divulgado – bebeu horas antes de subir sobre a moto. Acabou batendo sozinho numa caçamba de entulhos na avenida Irmãos Pereira. Com o joelho esmagado, anda de muletas até hoje. Maio de 2012. Uma senhora de 85 anos de idade atravessava a faixa de pedestres na rua Mato Grosso, centro, quando um motorista ignorou as convenções de trânsito e a atropelou. Permaneceu meses sobre a cama. Abril de 2015, véspera de Páscoa. Trajano Fernandes, 70 anos – o Nego Adão, atravessava a Perimetral Tancredo de Almeida Neves quando foi atropelado sobre a faixa de pedestres. Ele não sobreviveu. Maio de 2015, Jardim América. Pedro Pinto da Silva, 74 anos, morreu dias depois de ter sido atropelado. Ele estava de bicicleta quando um motociclista chocou-se contra ele. Mas e daí? Existem culpados para tantas sequelas e mortes no trânsito? Se existem, onde eles estão? Alguém paga por isso? Afinal, quanto vale uma vida? Muitas perguntas e quase nenhuma resposta.

Mas num trânsito caótico, com motoristas demais e bom senso de menos, sobram ironias. Não apenas na área central, mas em toda a cidade, Campo Mourão se equipara a um festival de equívocos. Aqui, as coisas não funcionam, principalmente, porque a maioria não faz a sua parte. De um lado, o município não desenvolve seu papel. Não melhora o sistema urbano de tráfego, insiste em ignorar semáforos e não corrige os principais locais de acidentes. Ou seja, deixa de transformar o dinheiro do contribuinte em melhorias e investimentos. Do outro lado estão motoristas irresponsáveis, com falta de atenção, embriagados e, em muitos casos, sem poder dirigir um carro ou pilotar uma moto. A mistura explosiva de tudo isso só podia resultar em um quadro preocupante: gente ferida, mutilada e morta. Mas quando a situação irá melhorar?

É bem verdade que ninguém em sã consciência se envolve em um acidente por que deseja. Acidentes ocorrem por muitos motivos, mas aqui principalmente por: falta de atenção, ingestão de drogas – álcool, inexistência de sinalização e imprudência. Diante de tantos relatos, apenas uma definição: aqui não existe conscientização de trânsito. Carros e motos correm o quanto querem. Não existem campanhas que desfaçam tamanha imprudência. Todos os dias alguém é vitimado nas ruas. E, em quase todas às vezes, ninguém paga por isso. Onde estão as discussões sobre o tema?

Mas o que seria um simples conserto, um ajuste, aqui, torna-se um problemão. Vamos aos fatos. Dos poucos semáforos existentes na cidade, pode-se afirmar que pelo menos a metade foi colocada pela iniciativa privada. Quando um deles apresenta defeito, demora-se para arrumá-lo. Há vários dias a sinaleira da Perimetral com a Edmundo Mercer ficou sem funcionar. Pior ainda no semáforo da rodoviária que, além de não ficar ligado, ainda foi retirado. Uma simples placa na Capitâo Índio Bandeira levou dias a ser arrumada. No começo deste ano permaneceu torta por pelo menos dois meses. Foi consertada. Mas voltou a virar e agora, foi retirada de vez.    

PM

Em locais não sinalizados, segundo dados da Polícia Militar, é o condutor quem tem obrigação em saber distinguir as vias preferenciais. “Todo condutor habilitado deve saber qual via tem preferência na ausência de sinalização, isso faz parte da formação do condutor. Logo cabe a nós fazer abordagens, bloqueios e blitz para identificar condutores não habilitados”, explica o Tenente Ulisses de Deus Gomes, do 11 Batalhão de Polícia Militar de Campo Mourão. Segundo ele, ainda cabe aos cidadãos formalizarem o pedido de sinalização junto a Diretran. Mais uma vez, uma ironia. Se é um papel das autoridades em avistar problemas, porque então fica a população a tarefa?

Ulisses diz que o trânsito deve ser analisado sob diversos ângulos e não sob um olhar simplista. Segundo a legislação, o Sistema Nacional de Trânsito é atribuído e tem a competência de cada ente que pertence a União, ou seja, estados e municípios. Campo Mourão, por possuir em seu perímetro urbano vias municipais, rodovias estaduais e federais, depende também da ação da união e o estado para sanar alguns problemas.  De uma forma resumida, não adianta a população cobrar melhorias apenas da prefeitura. O trevão do Lar Paraná, por exemplo, assim como problemas na perimetral não são responsabilidades municipais.

De acordo com o tenente, os acidentes acontecem sempre por dois fatores básicos: condição insegura e atos inseguros. No primeiro caso entram aspectos desde conservação de pista, sinalização, fiscalização, chegando até condições climáticas adversas. O segundo caso abrange basicamente o fator humano. “Ou seja, é quando alguém faz ou deixa de fazer algo que acaba gerando um acidente”, diz. Embora não citados e exemplificados, Ulisses garante que trevos e outros locais problemáticos da cidade são discutidos entre a PM e a Diretran, costumeiramente.  Mas onde estão as soluções? Onde estão os investimentos? Porque então discute-se muito se não aparecem as melhorias? A verdade é que a população não quer saber se a responsabilidade aqui ou ali é municipal, estadual ou federal. Quer apenas que as soluções apareçam.

Dois exemplos clássicos de insatisfação popular: Avenida Miguel Luiz Pereira, que liga o trevo do Lar Paraná ao trevo para Curitiba e Cascavel. Ali não existem abrigos para os veículos que queiram retornar, principalmente, em frente ao Posto Tio Patinhas. Inúmeros acidentes são registrados no local. O segundo exemplo é no acesso ao campus do Integrado, na rodovia em frente ao Parque de Exposições. Ali, praticamente ninguém para no acostamento para virar. Nem um único trevo existe. O pátio do próprio posto ali existente serve como parte da rua.

Numa espécie de resumão, Ulisses diz que os motivos de tantos acidentes na cidade abrangem o desrespeito as normas de trânsito por parte dos condutores, o planejamento, conservação e sinalização de trânsito por parte da União, estado e município, e a necessidade de um número maior de fiscais e equipamentos para fiscalização de trânsito. De acordo com o vereador Edson Battilani, a Câmara Municipal aprovou há tempos recursos para que a prefeitura contratasse agentes de trânsito. Mas infelizmente, até hoje, nenhum concurso para isso aconteceu.

]Através de inúmeros contatos com a assessoria de imprensa do município, esta reportagem não obteve retorno da prefeita Regina Bronzel Dubay. Por este simples gesto, não serão repassadas as informações aos leitores de como a cidade poderia ser melhorada.

Números

Existe uma dificuldade em se chegar a um número preciso sobre acidentes, vítimas e mortes no trânsito de Campo Mourão, principalmente, porque os números computados pela PM dão conta dos óbitos ocorridos no local, dentro do perímetro urbano. O problema é que existem aqueles que ocorrem nas rodovias federais e estaduais e, ainda, os óbitos que ocorrem dias ou semanas após o acidente. Estima-se que no município de Campo Mourão ocorra uma média de 12 mortes por ano. “Esse é um dado empírico apenas”, diz o tenente Ulisses. Quanto aos sequelados permanentes, segundo o último dado do DPVAT, existe uma relação direta de dez para um, ou seja, uma proporção de dez sequelados para cada óbito no trânsito.

O trânsito na visão de um vereador
Temos um trânsito caótico, com necessidade de intervenção urgente”, afirma o vereador Edson Battilani. Segundo ele, falta em Campo Mourão uma sinalização adequada em grande parte da cidade. Além disso, necessita-se da implantação de estacionamento rotativo na área central e definição de vias preferenciais no sentido norte sul e vice versa. Ele ainda destaca a aplicação de um sistema binário nas principais avenidas, principalmente, para melhorar a mobilidade.

A lista de soluções apontadas por Battilani não para. “Temos que implantar ciclovias ou ciclo faixas para facilitar o uso da bicicleta, além de instalar semáforos em alguns cruzamentos de maior fluxo de veículos”, diz. Segundo ele, o município não desenvolve o trânsito, simplesmente, por falta de planejamento e de coragem. “O legislativo tem feito constantes cobranças e autorizado os recursos que o município solicita, inclusive a criação de quadro de agentes de trânsito e cargos para a CIRETRAN. Infelizmente, até agora não houve o concurso para os agentes. Porém, os cargos CC, de livre nomeação pela prefeita foram todos preenchidos, infelizmente, com pessoas sem qualificação profissional”, afirma. De acordo com o vereador, há situações em que a remuneração é superior a três mil reais apenas para se pintar faixas nas vias.

Battilani explica que a própria sociedade organizada tem cobrado melhorias no trânsito. A última alteração no trânsito de Campo Mourão, segundo ele, foi feita na administração do prefeito Rubens Bueno. De lá para cá o número de veículos no mínimo triplicou. Ele também destaca que a cidade mantém um departamento voltado ao trânsito, hoje ocupado por Nelson João Casaroli. “A Diretran custa ao município, apenas com cargos em comissão e funções gratificadas, R$ 28.697, 40, mensais. Muito gasto para quase nada até agora”, disse.

Vítima das dores

Marlon Sedoski, hoje com 34 anos, faz parte dos índices de sequelados no trânsito de Campo Mourão. Segundo ele, quebrou todas as articulações do braço esquerdo, trincou as vértebras L1 e L2 e fraturou um dos pés. Permaneceu 70 dias de cama e quase seis meses em cadeira de rodas. “Hoje tenho uma limitação de movimento no braço, com cerca de 30% dos movimentos e força. O que me atrapalha não é isso e sim a dor, que nunca sumiu”, disse. Agora, está prestes a fazer nova cirurgia.

Naquele dia, Marlon seguia de moto pela avenida Jose Custódio e, no cruzamento com a rua Santa Cruz um carro cruzou a preferencial. “Lembro exatamente a velocidade que estava marcando no painel da moto, 37km/h”. Depois disso passou por quatro cirurgias. Agora, precisa fazer uma prótese total de ombro.
Segundo ele, o local era bem sinalizado, mas faltou atenção do motorista. “Podia estar no ponto cego do motorista, quem sabe”, disse. Marlon ainda teve sorte de ter sido ajudado pelo condutor, tanto no dia do acidente, quanto nos custos das primeiras cirurgias. Para ele, o pior de tudo no trânsito da cidade é verificar que o dinheiro público não tem sido aplicado. “Falta sinalização em grande parte do município”, disse. Para o azar de Marlon, no exato momento de seu acidente, ficou deitado a espera de socorro por uma ambulância mais de uma hora. “Isso porque além do meu, ocorreram outros três acidentes”, disse. Quando chegou ao hospital, um mesmo médico já havia operado cinco pacientes, todos vítimas de trânsito na cidade.

Imprudência com álcool

Ele preferiu não ter o nome divulgado. Mas confessa que suas sequelas foram ocasionadas apenas por ele mesmo. Dono de uma moto bebeu e depois se acidentou. Bateu numa caçamba de entulhos, que estava numa das principais avenidas da cidade. Um acidente estúpido que poderia não ter ocorrido, não fosse o álcool. 

Tudo aconteceu dia 22 de setembro do último ano. Com o impacto, um dos joelhos foi amplamente atingido. Fez uma cirurgia em Campo Mourão e depois, recomendado pelo próprio médico a buscar tratamento em Curitiba. Em alguns meses terá que passar por nova cirurgia. “Eu já estou bem. Tô andando até de muleta já”, disse – não entendemos se falou sério ou se foi algum tipo de ironia.

Mal súbito

Um mal súbito sobre a moto levou Ângela Maria Alves Batista a atravessar a pista em frente a um veículo. Pega em cheia, a colisão foi grave. Com a perna mutilada, foi levada até a Santa Casa, onde o médico indicou uma amputação. O acidente aconteceu no dia 15 de outubro de 2013, em frente a um posto de combustíveis, na saída para Maringá.

Técnica de enfermagem, Ângela disse que ali, a colisão não foi culpa de ninguém. “Eu praticamente já estava desmaiada sobre a moto quando atravessei a pista. Não vi nada”, disse. Mesmo não culpando o trânsito da cidade pelo seu acidente, ela acredita que o município precisa de mais investimentos, principalmente com sinaleiras em alguns trevos e ruas.

]Mas se a colisão foi violenta, as notícias, no seu caso, foram positivas. Contrariando a decisão do médico, ela procurou outro profissional, que conseguiu evitar a amputação. “Ele fez uma técnica diferente e conseguiu aumentar o osso fraturado. Com enxertos, minha perna hoje está boa, graças a Deus”, disse.

Atropelado e morto por um menor

Ele era conhecido em toda a cidade por Nego Adão. O próprio apelido já demonstrava a sua singeleza. Um cara comum, não fosse a paixão por gente. Adorava as pessoas. Convivia em perfeita harmonia com todos a sua volta. Um verdadeiro gentleman. Aposentado e com 70 anos de idade, Trajano Fernandes acordou naquele dia 7 de abril para ir a padaria mais uma vez. Ia tomar o rotineiro café da manhã. Mas ao tentar atravessar a Perimetral, foi atropelado sobre a faixa de pedestres. O sinal, segundo testemunhas, ainda estava amarelo. 

Mas isso não foi o suficiente para que dois rapazes de moto – o condutor menor de idade e, portanto, sem habilitação – freassem ou na pior das hipóteses, diminuíssem a velocidade. Atropelaram Nego Adão com tanta violência e velocidade que seu corpo rolou por mais de dez metros. Quebrou as duas pernas, um braço e ainda teve uma batida forte na cabeça. Lutou por quatro dias e perdeu a batalha. As ironias são tantas que acabou sendo internado no mesmo hospital, mesma ala dos dois rapazes. A diferença é que os responsáveis pelo acidente saíram de lá vivos, andando normalmente. E estão presos? Claro que não.

A advogada Márcia Fernandes, 45, é filha de Trajano. Hoje mora em São Paulo, mas acabou tão vítima do trânsito de Campo Mourão quanto o próprio pai. Ela ainda resiste em não acreditar no que aconteceu. “Campo Mourão não possui porte para tanta velocidade. O que acontece aqui tem que parar”, afirma. “Estou pasma com o desrespeito a idosos e crianças neste trânsito”, diz. Ela lembra que o pai era o “norte” da família. Ele era cuidadoso em atravessar as ruas. “O poder público deve voltar seus investimentos às necessidades que o trânsito exige. A população têm que se manifestar, ir às ruas e exigir que os erros sejam corrigidos”, argumenta.

Estudo na gaveta

Um estudo sobre as condições do trânsito de Campo Mourão foi realizado em 2014 a pedido da Câmara de Vereadores. Depois de concluído, o documento foi enviado à prefeitura, a fim de que o município tivesse acesso às observações e, possíveis soluções ao setor. Realizado pela Gasini Consultoria, o levantamento sugere a imediata retirada das rotulas e “raquetes” existentes na área central. Pede reforço da sinalização viária para orientação dos motoristas e, ainda, pretende proibir conversões à esquerda. Solicita também a implantação de uma rede semafórica interligada e, inevitavelmente o aumento da fiscalização, principalmente, visando coibir as infrações cometidas, que atualmente são de fácil verificação.

As dificuldades provocadas pela atual malha viária do município – leia-se buracos -, se reflete não apenas nos deslocamentos dos veículos, mas se reflete também no sistema de transporte coletivo, tendo em vista a dificuldade de transpor algumas vias da área central em função do fluxo existente e da falta de visibilidade em alguns pontos. Observa-se no município falta de sinalização em diversos pontos. A simples implantação de faixas divisórias de fluxo tende a ordenar os movimentos garantindo uma melhor sensação de conforto e comodidade para os usuários. Sugere-se que antes da implantação de um sistema binário, seja implantado inicialmente sistema de estacionamento rotativo.

Entre os principais pontos a serem colocados semáforos estão: Av. Manoel Mendes de Camargo x R. Francisco Albuquerque; R. Araruna x Av. Goioerê; R. Araruna x Av. Capitão Índio Bandeira; Av. Capitão Índio Bandeira x R. São Paulo; Av. Goioerê x Rua São Josafat; Av. Goioerê x Rua Pitanga; Av. Irmãos Pereira x Rua Francisco Albuquerque.

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quarta-feira, 1 de abril de 2015

Havia um vândalo no meio do caminho






Dilmércio Daleffe

Avenida Afonso Botelho. Centro de Campo Mourão. Madrugada do dia 01 de abril. Vândalos deixam um rastro de destruição. Ao todo, oito lixeiras residenciais levadas ao chão. Mas o que leva uma pessoa ocasionar danos a outra sem ao menos conhecê-la? Quais motivos fazem de um ser humano um destruidor de sua própria comunidade? Por quê?

As lixeiras não possuíam outra serventia senão guardar o lixo residencial das casas atingidas. Estavam ali apenas para isso. Nenhuma delas atrapalhava o fluxo dos pedestres e, pelo que se sabe, nenhuma criou pernas e virou obstáculo a alguém. São objetos inertes e não pensantes. Não pensantes assim como o autor ou autores da ação.

Até que sejam consertadas, o lixo agora terá que ser acomodado ao chão. Pior à cidade que ficará mais suja do que já é. Neste tempo, cães não pensantes abrirão os sacos e contribuirão com a sujeira dos mesmos vândalos, também não pensantes. Mas aqui, a diferença é que os animais não destroem propositalmente. São inocentes e compará-los aos sádicos sociais seria crueldade demais.

As oito lixeiras não são nada comparadas as dezenas de ações piores que ocorrem todos os dias na cidade. Aqui, vândalos destroem de tudo. Lâmpadas, lixeiras, orelhões, canteiros, fachadas de edificações. Danos ao erário público e privado. O que dizer então da sujeira deixada na Capitâo Índio Bandeira, durante os finais de semana? Atos de seres não pensantes. Cidadania aqui ainda é tabu.


Um dos moradores que teve a lixeira destruída preferiu nem dizer nada, tamanha sua indignação. “Vou dizer o que”?, disse. Vandalismo significa falta de cultura, inexistência de educação. Numa cidade tão bela como Campo Mourão, necessita-se urgentemente aulas de cidadania. Talvez fosse o momento de lideranças locais pensarem nisso. Quem sabe até incluir aulas desta natureza nas escolas públicas e privadas? O fato é que simples lixeiras foram arrancadas. Elas serão consertadas, não tenham dúvidas disso. Mas e os vândalos? Eles serão consertados? Quando?

domingo, 22 de março de 2015

Laércio tornou-se invisível

Laércio não sabe ao certo a idade. Caiu nas ruas há tempos depois de uma desilusão amorosa. Perdeu o amor próprio, a identidade a a esperança. Mesmo assim, continua vivendo, apesar de seu isolamento. Como consequência, tornou-se invisível aos olhos da sociedade. Vive sua solidão em companhia da rua, das madrugadas frias, da cidade calada. Entre 90 mil habitantes, fez suas próprias escolhas, e preferiu viver numa ilha.

domingo, 15 de março de 2015

Eu vi, eu estava ali




Dilmércio Daleffe

Hoje, eu vi um recomeço. Cansada de tanta corrupção, parte da população mourãoense foi às ruas. Foi pra rua pedir um basta. Eu vi gente de bem querendo mudança. Numa manifestação pacífica, pessoas gritaram, apitaram, cantaram. Pediram a saída da Presidente Dilma, o fim do “imperialismo” petista, o término das quadrilhas organizadas em várias esferas do governo.

Acordei cedo, quase não dormi, e presenciei uma possibilidade de transformação. Eu vi famílias de mãos dadas. Crianças com carinhas pintadas e marmanjos indignados. Vi a alegria de uma população saudável, mas desejando o fim de um país definitivamente doente. Vi médicos, dentistas, simples trabalhadores. Vi estudantes, advogados, até mendigos eu observei. Todos estavam lá. Praça Getúlio Vargas, 9h da manhã. Um dia histórico.

Faixas, cartazes, gritos de ordem. Discursos emocionados de cidadãos. Pela primeira vez, políticos não tiveram voz. Apenas escutaram. Clamando uma nova era, as pessoas desejam mudanças. Constatou-se, enfim, que a corrupção quebrou a maior empresa do país. A Petrobras foi usada para alimentar ratos e bandidos. Finalmente, a multidão entendeu que o Brasil deve ser feito em favor dos brasileiros e não contra os brasileiros. Eu vi gente chorar. Vi mulheres emocionarem-se e idosos extravasarem.

Finalmente, identificou-se o sangue maldito -, herança de uma mistura interracial que não deu certo -, que corre nas veias da população. Nós brasileiros, temos um fraco pela corrupção. Sim, devemos fazer um “mea culpa”. Todos os “sistemas” implantados aqui estão infectados por este mal. Não adianta negar. Mas chegou a hora de nos recuperarmos. Acordamos? Isso ainda não sei. Mas hoje, eu vi nos olhos das mais de duas mil pessoas que ali estavam uma vontade de acordar. Todos querem dizer um não a corrupção.

Mas para que isso ocorra, a multidão não quer mais este governo. Dilma é no mínimo, conivente com o sistema. Antes dela, Lula já sabia. Mas foi blindado. Definitivamente, a estrela no PT se quebrou. O pior de tudo é que o partido não admite suas falhas, seus erros, suas mentiras, seus roubos. As pessoas decidiram romper. Eu vi a insatisfação nas ruas.

Bem certo e verdadeiro é que outros partidos também não assumiriam os próprios erros. Trocar Dilma por Temer, ou Aécio, ou qualquer outro, agora, seria a mesma coisa. Mas como somos movidos por esperança, qualquer coisa agora será melhor.

Certamente, depois de hoje, o país será diferente. Estamos pedindo uma mudança. Eu vi o clamor e o desejo de todos ali. Numa mesma manifestação estavam todos unidos. Católicos e evangélicos. Brancos e negros. Ricos e pobres. Novos e velhos. Todos cantaram o Hino Nacional em uma só voz. Se for para recomeçar um novo país, até o sangue derramado terá valido a pena. Eu senti isso. Eu estava ali! Somos um povo de paz. Mas se nada mudar, também sabemos lutar!