Dilmércio Daleffe
José Luiz Lutz sempre curtiu o carnaval. Ainda na década de 90, ao lado da esposa, Iramir, não perdia uma só noite de folia. Naquela época os foliões se reuniam no Peabiru União Clube e a farra terminava somente depois do sol raiar. Ele e a mulher, inclusive, receberam seis troféus de casal folião na cidade. Tempos de ouro que não voltam mais. Mas este ano algo mudou. José não verá o carnaval. Peabiru está calada. A tristeza imperou devido a um inseto. Uma porcaria de mosquito. Um bicho quase imperceptível, mas que causou uma tragédia na cidade. Transmissor da dengue, ele é responsável pela aparição de 30 casos da doença, por dia. Uma calamidade pública responsável até por uma morte. Sensibilizado por uma recomendação da Secretaria Estadual de Saúde, para que evitasse eventos com aglomeração humana, o prefeito Claudinei Minchio decidiu cancelar o carnaval.
A decisão tomada agora vem cercada de polêmica. Isso porque parte das pessoas não aceita, enquanto outras aprovam a medida. O aposentado Leonildo Simoneli aprovou a atitude da prefeitura. Para ele, a saúde pública tem que estar em primeiro lugar. “Acho bom não ter a festa. Penso que a dengue poderia ser levada para outras cidades da região”, disse. Outro homem que preferiu não ser identificado, relatou que o mosquito nada tem a ver com o carnaval. Ele acredita que o inseto não seria capaz de provocar picadas durante à noite. Além disso, ultimamente, a folia, segundo ele, vem atraindo delinqüentes e gente que não presta. “Acho bom não ter a festa”, revelou. Os dois entrevistados já tiveram dengue.
Polêmicas à parte, a questão é que a cidade sempre conviveu com o carnaval. Uma paixão sincera e de longa data. A folia é comemorada antes mesmo do município ser emancipado. Depois, as famílias passaram a pular no Peabiru União Clube – PUC. Naquele tempo, ainda tocavam as marchinhas. Não existia a violência dos dias atuais e qualquer abraço entre as pessoas era motivo para a alegria. E era neste contexto em que José e Iramir tornaram-se conhecidos pela felicidade de brincar o carnaval. São hoje personagens épicos de uma festa memorável.
Cleonice Lazaretti Cabreira, chefe da divisão Cultural da prefeitura de Peabiru, conta que os bailes de salão foram terminando na época em que os foliões passaram às ruas. Isso aconteceu em 2002, quando a prefeitura realizou o carnaval na Avenida Raposo Tavares. Foi então que blocos surgiram, iniciando um movimento existente até os dias de hoje. Ou melhor, até 2012, mas que voltará em 2014 – se a dengue der uma trégua. Um dos blocos precursores na cidade foi os “Cara de Pau”.
Anualmente a festa de rua dura quatro dias. São cerca de 15 blocos atraindo cerca de 3 mil pessoas à área central da cidade. Mais que uma festa, trata-se de um evento familiar. São centenas de pais e mães levando seus filhos. Reflexo de uma tradição antiga, existente apenas em Peabiru. Hoje a cidade tem o melhor carnaval da região, não dando chances, nem de perto, para Campo Mourão. Entre os blocos da cidade destacam-se o “Chuta que é Macumba”, “Únicos”, “5 C”, “Monumentos da Avenida”, “Skolpira”, “Brahmaloucos”, “Os Xurupinga”, “Os Pai da Pinga”, “Os Pudim”.
Farra terminava somente depois do sol raiar. |
Juliano Steph Scarabel é um dos maiores foliões da atualidade em Peabiru. Criador do bloco “Os Únicos”, ele também colabora na organização do evento. Aos 33 anos de idade, vê com tristeza a falta do carnaval. Mas entende que trata-se de saúde pública. “Será um vazio. Mas para o bem de toda a cidade”, disse. Para o próximo ano ele até sugere a criação de um novo bloco, “Os Dengosos”. Falando nisso, Tanto Cleonice como ele já foram picados pelo mosquito da dengue. Nessa história, inclusive, todos os entrevistados tiveram dengue. Talvez isso resuma a situação no município e, consequentemente, suas razões para o cancelamento do carnaval. Mas se vale como consolo, existe uma grande possibilidade, em breve, da prefeitura realizar um carnaval fora de época. E nessa, mosquito não será convidado.
Dengue, o que é?
Dengue é uma enfermidade causada por um vírus e tem como hospedeiro o homem, o qual apresenta manifestação da infecção num período de aproximadamente sete dias. O vírus da dengue, provavelmente, se originou de vírus que circulavam em primatas na proximidade da península da Malásia. O crescimento populacional aproximou as habitações da região à selva e, assim, mosquitos transmitiram vírus ancestrais dos primatas aos humanos que, após mutações, originaram nossos quatro diferentes tipos de vírus da dengue. A febre hemorrágica da dengue atinge pelo menos 500 mil pessoas/ano, apresentando taxa de mortalidade de até 10% para pacientes hospitalizados e 30% para pacientes não tratados. Mas para que o mosquito transmissor seja controlado é necessário que haja educação nos hábitos do terceiro mundo. Ou seja, as larvas do mosquito se proliferam basicamente na desorganização da população, como em quintais, terrenos baldios ou lixões. De uma certa forma, a doença só continua a existir aceleradamente pela má educação das pessoas.
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