Era um dia normal a tantos outros. Ali, naquele matagal, uma pá lhe foi entregue. Então cavou por horas um buraco com quase dois metros de profundidade. Mal sabia ele que aquela cova, mais tarde, era pra ele mesmo. Rodrigo - nome fictício por razões óbvias - foi obrigado a adentrar em sua própria obra. Com os braços rentes ao corpo foi soterrado por inteiro. Permaneceu vivo sob a terra por cerca de cinco minutos. Mas um dos elementos pertencentes ao tráfico decidiu voltar e salvá-lo. Rodrigo havia entrado no caminho das
drogas e já, aos 17, era traficante. No conflito dos seus negócios, foi enterrado vivo, vítima do mundo doentio
do crime. Hoje, aos 29, descobriu que no mundo não existem heróis. Decidiu
então seguir a palavra de Deus e, parece ter sido salvo por ele.
Dilmércio Daleffe
Aos 14 anos de idade, já influenciado por más companhias,
Rodrigo – nome fictício – começou os trabalhos de sua breve marginalidade.
Filho de pais honestos e trabalhadores, conseguiu desviar os caminhos ensinados
para contribuir à ilegalidade com seus atos. Mesmo trabalhando desde cedo, ele
é prova que, por mais que se tente, algo insiste em desvirtuar as direções
corretas do homem. E foi assim que entrou no mundo do crime utilizando a
maconha. Bebia, usava pó e, quando percebeu, já era dono de uma boca de fumo.
Rodrigo nasceu em 1986 no interior do estado de São Paulo.
Uma cidade de médio porte, mas onde existiam inúmeras possibilidades do crime.
Ao lado dos colegas de escola foi se apegando pelas coisas erradas. Ele sabia o
que era certo, mas tendia ao lado errado. “Eu sabia que o que não era meu, eu
não podia pegar. Por isso, nunca roubei”, disse. Mas este foi um dos poucos pecados
que não cometeu.
Rodeado por rapazes viciados em assalto a carros forte, via
no seu dia a dia as rodas de conversas sobre os planos futuros da turma. Embora
jamais tenha participado de um desses roubos, sabia de todo o seu planejamento.
“Eu gostava mesmo era de fazer a minha correria – venda de drogas -. Éramos
todos amigos, mas cada um fazia o que queria. Uns assaltavam, outros vendiam”,
revelou.
Rodrigo nunca temeu nada, a não ser o próprio pai. Tanto é
que enfrentava a polícia e ainda dizia não temê-los. Mas um dia, o fim
aproximou-se. E sempre o fim de bandido é quase o mesmo: a morte antecipada.
Fazendo sua rotineira correria, eis que surge alguém disposto a tomar seu lugar
na venda das drogas. E era alguém de sua própria turma.
Ele já tinha 17 anos quando, numa tarde normal, foi com seus
companheiros até um matagal fora da cidade. Lá, pediram a ele que cavasse um
buraco profundo a fim de ocultar um cadáver logo mais à noite. Então, com uma
pá, cavou por horas um buraco de aproximadamente um metro e noventa de
profundidade. Uma cova que mais tarde, embora não soubesse, seria dele.
E assim aconteceu. Não suspeitando de nada, à noite o grupo
se encontrou e, do nada, um deles encostou a pistola em sua cabeça perguntando:
“O que você prefere? Tiro na cara ou enterrado vivo? Sem pestanejar, preferiu
ser enterrado. Voltaram ao matagal e lá adentrou a cova passando a ser soterrado.
“Diante de tudo o que vivi até aquele dia jamais havia tido alguma espécie de
medo. Mas aquilo ali foi mais forte que tudo”, disse. É claro que Rodrigo não
morreu. Após cerca de cinco minutos soterrado, um dos caras retornou para
salvá-lo. “Era meu amigo. Não podia deixar eu ali, daquele jeito”, afirmou.
A história desse sujeito é repleta de fatos incríveis. Como
por exemplo o episódio em que outro concorrente disparou o tambor do 38 em sua
face. Nenhum dos disparos ocorreu. “Acho que já nasci umas três vezes”, diz. Rodrigo sempre foi trabalhador da construção
civil. Ao mesmo tempo em que tinha vida bandida, também trabalhava. Por todos
os seus caminhos, teve várias escolhas. Mas depois de saborear o crime, optou
pelo lado correto. Abandonou a droga, a bebida, amigos e seguiu pelas vias
saudáveis, sem maiores emoções. Hoje, um ano e meio morando em Campo Mourão,
está casado, frequentando uma igreja evangélica e o mais importante:
trabalhando muito. “Minha vida é esta. Sei que Deus cuida de mim, por isso
estou aqui, vivo e contente”, disse.