Dilmércio Daleffe
Cerca de 180 Daleffes de todo país se reencontraram pela
primeira vez neste final de semana, na cidade de Nova Veneza, sul de Santa
Catarina. O evento, denominado Daleffest, reuniu membros da família que, até
então, jamais haviam se conhecido. Trata-se de um primeiro passo para que os
descendentes de italianos façam valer a força de seus antepassados.
Colonizadores do sul do país vieram ainda em 1891, quando desembarcaram no
porto de Imbituba. A satisfação do evento foi tamanha que, a segunda Daleffest
já foi marcada para Campo Mourão, em novembro de 2017.
Da família de Campo Mourão, Denir Daleffe, 70, percorreu 900
quilômetros para participar do evento. “Isso aqui é muito bonito. Uma festa
maravilhosa. Não tenho nem palavras para descrever. É mágico conhecer pessoas
do nosso sangue”, disse. Denir nasceu em Treviso, cidade vizinha à Nova Veneza,
e na visita, viu parentes e se emocionou ao rever a escola e a casa onde
nasceu. Filho de Dionísio Daleffe – in memoriam – deixou a região ainda na
década de 50, quando veio com os pais e irmãos até Campo Mourão. “A nossa casa
ainda está em pé. É muito emocionante relembrar tudo o que vivi naquela época”,
disse.
Edson Daleffe, aos 46 anos de idade, é de uma geração bem
mais nova. Mesmo assim, também emocionou-se ao conhecer Daleffes de todo o
país. Ele pertence a um núcleo que migrou para Francisco Beltrão, também na
década de 50. Neto de Modesto Daleffe, hoje mora em Jandira, São Paulo, e acredita
agora poder aumentar os elos que faltavam com sua família. “Uma família tão
desunida, passou agora a cultivar uma paixão entre seus membros. Me comove
muito ter participado desse evento. Vou levar isso para sempre”, revelou.
Patriarca de um núcleo residente em Criciúma, Santa
Catarina, Élio Daleffe, 72, foi um dos responsáveis pelo evento. Neto de
Antônio Daleffe, ele definiu a festa como uma inexplicável riqueza. “Fizemos
com um carinho enorme. Só em saber que mais de 170 pessoas de 20 cidades
diferentes deixaram seus compromissos para se deslocarem até aqui, nos deixaram
muito felizes”, disse. Élio teve a colaboração de seus três filhos, Dalério, Danilo
e Dionélio. Juntos, os quatro levaram atrações musicais italianas,
confeccionaram camisetas e receberam um a um dos participantes com uma recepção
legítima da família Real.
Mas o que move o sentimento de uma pessoa? Sem dúvida, mais
que conhecer a si mesmo, ninguém é uma ilha. Talvez por esse motivo, pairou no
ar um sentimento verdadeiro, de desejar ter uma família. Cada um dos
participantes da festa emocionou-se de seu jeito. Muitos trocaram ideias e se reconheceram.
O sangue acabou falando mais alto. De intimistas, os Daleffes passaram a
aflorar algo até então, desconhecido. Brotou a semente da família. Que venha a
segunda Daleffest em Campo Mourão.
O início
Tudo começou em 1891, quando Giácomo Daleffe, aos 38 anos,
desembarcou com a esposa, Santina, quatro filhos, três irmãos - Gio Battista, Agostino e Giuseppe no Porto de Imbituba, Santa
Catarina. Fugindo da peste e das dificuldades da Itália, trouxeram consigo a
esperança nos olhos. Trabalhadores honestos, queriam apenas manter a família em
terras onde pudesse plantar. Queriam paz, um canto de harmonia com suas famílias.
Então, a pé, seguiram por
caminhos jamais abertos. Foram cerca de 90 quilômetros abrindo picadas com
facão e foice. Carregavam malas e dormiam em meio ao mato, junto a cobras e
outros animais. Tinham pouca comida e muita esperança. Finalmente, após algumas
semanas de muito sofrimento, chegaram a um lugarejo conhecido até hoje como “Montanhão”,
ao lado de Treviso. Um lugar bastante elevado, parecido com a Europa. E foi ali
que tudo começou.
Ainda hoje, uma única família de Daleffes mora no Montanhão.
Trata-se do Núcleo familiar de Alcide Daleffe, 66 anos. Filho de Ricieri
Daleffe – irmão de Dioníso Daleffe de Campo Mourão – Cid, como é conhecido,
continua a viver como Giácomo: da agricultura. Na vida digna e honesta, traz
consigo os mesmos traços da família: bons trabalhadores. Ali, construiu sua
casa ao lado da esposa Isabel e dos filhos Rodmar, 41, e Rosana, 45. “Nunca
deixarei este lugar. Aqui é meu canto, meu trabalho, meu sustento”, disse.