quarta-feira, 11 de julho de 2012

Maurílio buscava sua verdade


Dilmércio Daleffe
Maurílio Bruno da Silva sempre foi contestador. Morreu aos 49 anos de idade ainda duvidando da morte. Tinha uma personalidade marcante e jamais ficou sobre o muro. Era oito ou oitenta. Assim também eram as impressões sobre ele. Quem o conhecia o adorava. Ou o odiava. Conhecido pelo jeito descontraído sorria e brincava o tempo todo. Por muitas vezes se fazia de tonto. Mas era inteligente demais. No entanto, a felicidade que semeava entre os amigos e familiares acabou esbarrando no álcool. Bebeu o que não podia durante a vida inteira. E acabou pagando por isso. Há alguns dias foi encontrado já sem vida num terreno baldio no Lar Paraná. Horas antes estava medicado no Posto 24h. Como ele saiu de lá, ainda ninguém sabe.
Gozador da vida, Maurílio já fez de tudo um pouco. Foi até gerente do extinto Banco Nacional, em Campo Mourão. Lá cultivou inúmeras amizades, sendo reconhecido, inclusive, pelo seu lado humano. Mas cansado da rotina, buscou novas aventuras. Sempre foi destemido. Decidiu ganhar dinheiro no Japão e, por lá permaneceu dez anos. Voltou diferente. Adquiriu cultura, aprendeu a língua, conquistou sabedoria. Mas um dia o governo japonês o impediu de retornar. É que teria passado tempo demais por lá.
Maurílio sempre contava suas histórias. Lembrava como conseguiu a amizade de seu melhor amigo japonês. Dizia que o cara era insuportável. Dono de bar, odiava vender bebida a estrangeiros. Mas a insistência de Maurílio para tomar umas e outras, acabou abalando o coração do “japa”. Ele jamais esqueceu do sujeito. Ficaram muito amigos, daqueles pra se guardar pra sempre.  
De volta ao Brasil, e ainda, sem poder retornar ao Japão, Maurílio parou de trabalhar. Vivia ao lado da mãe, dona Anézia. Recusava-se a encarar uma jornada e ganhar tão pouco. Dizia que o Brasil era injusto, um país que escravizava sua gente. Com o tempo, passou a beber mais e mais, prejudicando a própria saúde. No último ano, deu um tempo ao álcool e parou com a bebida. A família e os amigos aplaudiram a iniciativa. Mas o vício foi mais forte. Voltou a beber em seguida. Praticamente todos os donos de bar no centro da cidade eram seus amigos.
Maurílio escapou da morte por pelo menos duas vezes. Foram dois violentos acidentes de carro, quando arrebentou todo o corpo. Mas, mesmo quebrado no hospital, sorria o tempo inteiro, fazendo piadas com as enfermeiras e os vizinhos de quarto. Na época, nem ele mesmo acreditava que havia sobrevivido.  
Contudo, Maurílio sempre buscou suas verdades. Talvez tenhas as encontrado, não se sabe. Mas espirituoso, inteligente e fanfarrão, marcou a vida de quem o conheceu. Ele sempre foi ele mesmo. Nunca fez tipo ou dramalhões. Era um cara modesto, com boas histórias por contar. Maurílio deixou uma filha e um rastro infinito de saudades.              

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