segunda-feira, 2 de julho de 2012

Antônio Gonçalves: um homem de família



Dilmércio Daleffe
“Seo Teco” jamais frequentou uma escola. Mas isso nunca foi empecilho. Aprendeu com a vida a sabedoria de sua jornada. Na verdade, uma estrada de 73 anos. Casou com três, teve oito filhos, pegou malária por 11 vezes. Sempre foi pobre. Veio de um berço simples. Herdou traços indígenas da avó. Adquiriu a nobreza da Europa através do avô português. Hoje, vivendo numa casa velha de madeira com mais de 30 anos, na Vila Guarujá, resume-se no homem mais feliz do mundo. Afinal, guarda sob as “asas” quase todos os filhos e netos. Juntos, são 13 pessoas num mesmo lar. Uma moradia precária, cheia de frestas, mas que abriga uma família bastante unida.
Antônio Gonçalves de Oliveira, este é o seu nome. Nascido em Itapetininga, estado de São Paulo, no ano de 39, “Teco” sempre foi um homem do campo. Seu pai, Custódio, era capataz de grandes fazendas. Ao lado da esposa, Maria, decidiu vir a Campo Mourão ainda em 1950, mais precisamente no dia 15 de setembro. Aprendeu com os pais a valorizar o trabalho desde seus oito anos de idade. Fazia de tudo na roça. As mãos do menino logo foram calejadas pelo cabo da enxada. Seus traços físicos pertencem a uma miscelânea de portugueses, por parte do avô, e índios Tupi-Guaranis, da avó. Teve 12 irmãos. Hoje apenas ele e outra ainda vivem.


Mesmo sendo um legítimo caboclo, Antônio acabou sendo “expulso” do campo com o avanço das máquinas. Ele foi um daqueles substituídos. Acabou na periferia de Campo Mourão ainda em 72. Desde então vem trabalhando com madeira. Na verdade compra e revende. O lucro já foi bom. Mas hoje transformou-se apenas num complemento de sua aposentadoria. Dos oito filhos, sete ainda moram sob o seu teto. Ele faz questão disso. Apesar de tratar-se de um imóvel bastante modesto, a casa mantém um clima de paz e alegria. Todos são bastante unidos ali. “Teco”, o patriarca, até hoje insiste em conselhos. “Sempre busquei o caminho do bem. Quero que eles também o alcancem”, disse.
A família sobrevive graças a aposentadoria de Antônio. Apenas o filho mais velho, Clóvis, trabalha. Juntos travam uma batalha desleal com a realidade, diariamente. É bem verdade que alimento jamais faltou. Mas também não existem regalias, luxo ou vaidades. Suas vidas são sinceras, assim como o reflexo de um espelho.


Ao pé do fogão a lenha, “seo” Antônio acende um cigarro de palha. É ali onde ele conta as histórias de toda uma vida. Perto das panelas ainda quentes, orgulha-se da família reunida. Olha para os filhos e netos e da um pequeno sorriso. Orgulho. Mas quando remete a memória ao passado, emociona-se ao lembrar dos pais. Chorou. Conta que o pai, Custódio foi assassinado nos “idos” de 50. Já a mãe morreu em 84, depois que ele retornou do Amazonas. Foi um período de sofrimento, mas também quando ganhou dinheiro. “Teco” passou quatro anos no Norte. Foi montar uma serraria para um amigo. Lá permaneceu quatro anos. Pegou malária onze vezes. Mas longe da mãe, decidiu voltar.     
“Teco” jamais freqüentou um banco de escola. Aprendeu com o mundo sua sabedoria. Até hoje não sabe ler ou escrever. Mas, como ele mesmo diz, “o mundo é uma escola”. Católico, acredita em Deus e, principalmente, em sua família. “Estamos unidos mesmo nos momentos de dor e alegria. A melhor coisa da vida é a minha turma”, revela. Como homem da casa, não vai a botecos, não tem inimizades com ninguém e sempre evitou discussões. Aos 73 anos, olha o passado e não se arrepende de nada. Fez tudo o que quis. Mas ainda preocupa-se com uma coisa: o futuro dos filhos. Afinal, mesmo semeando o bem, ele sabe que os dedos da mão de um não são iguais ao do outro.        

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